A sobretaxa de até 50% aplicada sobre parte dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos preocupa diretamente os municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC). A medida, definida em decreto norte-americano, poderá reduzir as exportações da região, afetando especialmente setores ligados à indústria, proteína animal e pneumáticos.
Conselho da RMC
Por isso, os prefeitos e representantes das cidades da RMC participaram de uma reunião extraordinária do Conselho da RMC, realizada nesta quarta-feira (20), na PUC-Campinas. No encontro, foi apresentado um estudo realizado com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que mostra o impacto do tarifaço nas exportações da RMC e também de cada cidade individualmente.
Dados
Segundo o estudo, no primeiro semestre de 2025, a RMC exportou US$ 2,6 bilhões, sendo US$ 422 milhões destinados ao mercado norte-americano, o que representa 15,9% do total.
Campinas foi a cidade que mais exportou para os americanos no período, concentrando 34,3% das exportações da RMC para os EUA. Em seguida, vêm Indaiatuba, com 13,9%, e Santo Antônio de Posse, com 13,6%.
Setor com boas notícias
Alguns produtos eletroeletrônicos, como os de telecomunicações — incluindo smartphones e componentes — não entraram no tarifaço. Mas o setor teve também outra boa notícia. “O governo do Estado de São Paulo atendeu à demanda, ao pedido, à mobilização da região metropolitana para manter os incentivos fiscais para a indústria eletroeletrônica. Isso, para a região de Campinas, foi fundamental. Nós estamos falando de várias cidades que têm indústria eletroeletrônica. E esses incentivos, que tinham data para terminar no mês passado, se não fossem mantidos, nós correríamos um risco sério de perder a competitividade da indústria eletroeletrônica da região metropolitana para Manaus”, contou o prefeito de Campinas e presidente do Conselho da RMC, Dário Saadi.
Dário também externou a preocupação dos municípios com as consequências do tarifaço. “O tarifaço pode implicar na redução das exportações e, consequentemente, na redução da arrecadação dos municípios. Podem perguntar: ‘Mas com o tarifaço, quanto vai reduzir a exportação?’ A gente não sabe. Ainda. Mas que é provável que vai reduzir, vai reduzir.”
Cidade preocupada
Em Santo Antônio de Posse, cidade em que grande parte da economia depende de uma fábrica exportadora de proteína animal, a possibilidade de mudança na produção já é cogitada e preocupa o prefeito Ricardo Cortez. “Para vocês terem uma ideia, o empresário me procurou. Com o custo da exportação, é melhor eles fazerem uma fábrica lá nos Estados Unidos. Então, já cogitam fabricar lá e deixar o Brasil. Isso nos preocupa, porque 82% da minha exportação é dessa fábrica, que é uma fábrica de proteína. Então, impactará muito. Num primeiro momento, o mais agravante é o desemprego e, a médio prazo, com certeza, é a queda da arrecadação.”
Santa Bárbara
Em Santa Bárbara d’Oeste, a questão também preocupa o prefeito Rafael Piovezan. “Santa Bárbara é uma grande exportadora para os Estados Unidos, pois 28% daquilo que é exportado na cidade vai para lá. Temos preocupação com vários ramos, entre eles o de pneumáticos. Essas tarifas trazem uma preocupação muito grande. Hoje, os municípios já trabalham no limite do que arrecadam, e esse recurso é muito precioso para entregar melhores serviços à população”, observou.
Campinas
Em Campinas, um quarto das exportações tem os EUA como destino, segundo o secretário de Finanças, Aurílio Caiado. “Cerca de 25% das exportações de Campinas são feitas para os Estados Unidos. Então, o impacto é significativo — um quarto, né? Já preocupa muito”, destacou.
Medidas conjuntas
No encontro, os prefeitos afirmaram que atuarão em medidas conjuntas para que a região seja beneficiada pelo pacote de R$ 30 bilhões anunciado pelo Governo Federal para amenizar os efeitos do tarifaço.
