segunda-feira, 25 novembro 2024

‘As Panteras’ detonam novamente

As panteras já dizem a que vieram nos minutos iniciais de projeção do filme que leva o nome do grupo: para colocar homens caricaturais na tela. 

São os que prometem amar mulheres, mas as querem em casa enquanto eles trabalham. Ou que marcam reuniões corporativas e não deixam que a cientista fale uma mísera palavra. Em tempos de empoderamento, o terreno está fértil para elas. 

É claro que esses patéticos misóginos serão punidos durante o filme, com prisão ou coisa pior. Merecido. “As Panteras” estão de volta para celebrar a força, a esperteza e a inteligência femininas, e nada mais justo do que isso. 

Desta vez, as regras do jogo estão mudadas. No antigo seriado de TV, que teve seis atrizes se revezando entre 1976 e 1981, e nos dois filmes, de 2000 e 2003, havia as três mulheres (nas telonas, Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu), o Bosley, que lhes dava ordens, e o Charlie via interfone. 

Agora, são centenas de panteras espalhadas pelo mundo, assim como dezenas de Bosleys comandando. Charlie continua único -e sem aparecer. 

Apesar das novidades, nada é novo de verdade. O esquema de agentes espalhados pelo mundo é o mesmo conceito de infinitos filmes do gênero, de “Missão Impossível” a “Kingsman: Serviço Secreto”, para não citar o original “007”. Mas é preciso citá-lo, pois muitas outras coisas foram chupadas de lá. 

O velho Q, que em todo filme apresenta a James Bond as armas e os carros mais avançados do planeta, aqui responde pelo nome Santo. Porém, como as panteras são garotas, além de transformar balas de menta em tranquilizantes e esconder microfones em pulseiras de ouro, Santo também sabe fazer chás, compressas para aliviar os roxos e, ainda, estalar as costas das nossas queridas combatentes. 

A cópia é tão óbvia que deram um jeito de homenagear o velho Ian Fleming, criador do 007, batizando um dos vilões como Peter Fleming, nome de um de seus irmãos. 

Quanto ao roteiro, dá vontade de bocejar de tão velho. Um bilionário desenvolve uma nova tecnologia para mudar o mundo, mas ela está em vias de ser transformada em terrível arma mortal por agentes do mal. 

Dito isso, o filme não é de todo mau. Kristen Stewart, Ella Balinska e Naomi Scott conseguem criar empatia com o público e dão um show nos papéis. Principalmente Stewart, que homenageia a antiga Sabrina da série de TV com seu personagem, só que agora assumidamente homossexual e muito mais brincalhona que a original. 

No início, encontramos duas delas, Sabina (Stewart) e Jane (Balinska) no Rio de Janeiro. A música de abertura é de Anitta. Pouco depois, o Bosley que as comanda, vivido por Patrick Stewart, vai se aposentar. Assume a liderança uma Bosley interpretada por Elizabeth Banks -que, aliás, também dirige o filme. 

Reviravoltas acontecerão e as cenas de ação são excelentes. A chegada da novata Elena (Naomi Scott) vai ditar o tom do filme. Lá pela metade da história, a invasão de um laboratório pelas agentes lembra os melhores momentos de Tom Cruise e seus amigos em “Missão Impossível”. 

São também divertidas as brincadeiras com as velhas panteras, que aparecem em fotos no início do filme e guardam uma surpresa para o final. 

É, enfim, entretenimento razoável para duas horas. Mas sem um pingo de cinema, levando-se em consideração a visão de Martin Scorsese para essa arte. Recentemente, ele explicou que filmes de super-heróis da Marvel não são cinema. Nem de panteras. 

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também