terça-feira, 23 abril 2024

Venda cai e montadoras dão descontos

Diferentemente de 2021, agora indústria e concessionárias têm veículos em estoque e precisam atender nova lei 

(Foto: Divulgação)

Anúncios de carros com condições de financiamentos convidativas e garantia de pronta entrega têm surgido neste início de ano. É um cenário bem diferente do vivido ao longo do segundo semestre de 2021, quando filas de espera e crédito mais caro se tornaram regra do mercado.

A Volkswagen, por exemplo, oferece o utilitário compacto T-Cross com “taxa zero”. Na Citroën, campanhas seguidas impulsionam as vendas do C4 Cactus no varejo. As explicações para essas e outras ofertas estão na lei e nos números.

Primeiro, a lei. As montadoras pediram e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) esticou por três meses o prazo para adequação de seus veículos a uma nova etapa da legislação ambiental.

A norma estabelecida pela sétima fase do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) previa que os automóveis leves produzidos a partir de 1º de janeiro deveriam emitir menos poluentes que os modelos feitos em 2021. Mas havia automóveis incompletos por falta de peças: sem a prorrogação, teriam de ser desmontados.

Dentro do possível, as fabricantes aceleraram a produção no fim de 2021. As férias coletivas foram atrasadas e dezembro registrou bom volume de produção.

O ritmo segue acelerado: esses carros precisam ser concluídos até 31 de março e vendidos até 30 de junho, e ainda há a montagem das linhas ano/modelo 2022/2022 e 2022/2023. Então entram os números.

NÚMEROS
Um recorte sobre o segmento de carros de passeio e comerciais leves mostra que janeiro registrou uma queda de 28,3% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2020. O dado é da Fenabrave (entidade que representa os distribuidores de veículos).
Fevereiro vai pelo mesmo caminho, com uma baixa de aproximadamente 25% até quinta (17) sobre igual período do ano passado, segundo o Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).

De repente, algumas montadoras estão com um pequeno estoque de carros com prazo de validade para venda. E há a necessidade de abrir espaço para a linha adequada ao Proconve 7 – que precisa ser rentável para pagar os investimentos feitos na adequação à nova norma ambiental.

Foi essa busca por rentabilidade em tempos difíceis que fez as empresas apostarem mais no faturamento para a rede concessionária do que nas vendas a locadoras, que compram em lotes e negociam grandes descontos.

O varejo estava ávido por carros, e as filas de espera formadas em 2021 ainda não terminaram. Mas os resultados deste início de ano ligaram o alerta no setor.

PANDEMIA
A variante ômicron trouxe mais incerteza sobre o fim da pandemia de Covid-19 e certamente influenciou a queda das vendas, mas o momento econômico do país tende a ser o grande motivo da desaceleração.

O cenário atual combina juros altos, inflação, desemprego e carros mais caros. Se a bolha de consumo que movimentou o mercado em 2021 estiver prestes a se esvaziar, os problemas podem transformar a esperada retomada em um ano de queda nas vendas.
Com a eleição presidencial, o segundo semestre tende a ser comprometido. Ao mesmo tempo, é provável que questões ligadas ao fornecimento de componentes estejam equalizadas.

Os movimentos feitos pelas marcas mostram que a entrega de peças, principalmente semicondutores, está mais regular. A Volkswagen, por exemplo, vai retomar o segundo turno na fábrica de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) no dia 2 de março.
Mas as montadoras -que têm feito grandes investimentos de olho no que será o mercado a partir de 2023- podem sentir falta de consumidores justamente quando estiverem prontas para entregar seus carros sem grandes filas de espera.

ANÁLISE
Para o presidente da Fenabrave, os resultados não refletem, necessariamente, que o brasileiro não quer ou não pode comprar carro, mas diversos motivos que convergiram no início deste ano.

“O resultado é conjuntural e acontece, principalmente, em função dos baixos estoques das concessionárias em dezembro, da persistente falta de produtos e da sazonalidade do período. Além desses fatores, a alta nas taxas de juros restringiu a aprovação de crédito para financiamentos e tivemos queda na renda do consumidor pelo aumento da inflação, em que pese tenhamos tido melhora dos níveis de emprego no país”, explica José Maurício Andreta Jr., presidente da entidade.

Andreata Jr. também informa que houve maior seletividade na aprovação de crédito. “Incertezas sobre a economia, as altas nas taxas de juros, com maior seletividade para a oferta de crédito afetam as condições de financiamento, e a falta de produtos”, avalia o presidente da Fenabrave. 

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