Um dos atores mais consagrados de sua geração, Antonio Fagundes ainda tenta entender o público do teatro no Brasil.
Para ele, o desinteresse com os espetáculos é um sintoma dos tempos difíceis em que vivemos, e desestimula a produção artística.
Fagundes conta que, quando fazia a série Carga Pesada (Rede Globo), não conseguia andar na rua sem ser parado por fãs, mas as peças que encenava tinham pouca gente. “Essa história de que colocar ator de novela ajuda a encher a plateia é conversa.”
Interessado na opinião do público, o ator tem o costume de voltar ao palco após o fim do espetáculo para conversar com a plateia e de promover ensaios abertos durante a fase de produção. Nessas conversas, percebeu que as pessoas sabiam muito pouco sobre como o teatro funciona.
Uma das perguntas frequentes era se o final da peça é sempre o mesmo. “Eles acham que a gente sobe lá e improvisa em [versos] alexandrinos”, diz rindo.
O ator participou essa semana de uma conversa no auditório da Folha de S.Paulo, ao lado da historiadora Rosângela Patriota, autora do livro “Antonio Fagundes no Palco da História: Um Ator”.
O bordão do personagem Pedro (é uma cilada, Bino!), da série “Carga Pesada”, vem da plateia do debate, que pergunta qual a grande cilada do Brasil hoje. “A gente tem que escolher entre democratas corruptos e autoritários corruptos. Essa é a grande cilada do Brasil”, diz.
A marca de galã, que o acompanha durante a carreira, incomoda. “É muito mais difícil fazer o galã”, afirma o ator. Ele defende que dar vida a um personagem comprometido com valores éticos é muito mais trabalhoso pois corre o risco de ser monótono.”Hoje em dia os autores, me parece, estão tendo uma preguicinha pra escrever os personagens, então eles têm preferido fazer os vilões”, diz.
Para ele, é mais fácil criar um tipo sem escrúpulos, que pode fazer o que quiser.
“Agora estamos caminhando para os serial killers. Eles resolvem tudo matando os inimigos”, critica o ator.
Para ele, conseguir reunir 700 pessoas no mesmo lugar, no escuro, em silêncio, durante 1h30min vendo seis outras pessoas desenvolverem uma ideia é revolucionário. “É o que nós fazemos. É teatro”, diz Fagundes.