As marcas da escravidão e do racismo estrutural na identidade brasileira são o ponto de partida tomado pela artista Fanny Deltreggia para compor a exposição “Sobre o Papel e a Pele”, em cartaz na Câmara Municipal de Americana, com visitação gratuita até 5 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
A equipe da TV TODODIA acompanhou a cerimônia de abertura, realizada na véspera do feriado da Consciência Negra, e conversou com a artista.
“O Dia da Consciência Negra é a maior manifestação contra esse racismo estrutural. Uma das minhas obras se chama Palmares, em alusão ao grande líder Zumbi. Minha obra fala exatamente disso, de dar luz a essas histórias que estão sendo resgatadas e trazer essa tomada de consciência”, destaca a artista.

A exposição e suas técnicas
Composta por 24 trabalhos, a mostra aprofunda a reflexão sobre identidade e história brasileiras, investigando as marcas profundas deixadas pela escravidão e pelo racismo.
As obras utilizam lápis grafite, assemblage, aquarela e uma técnica inédita desenvolvida pela própria artista, a ablação do papel carbono, resultado de uma pesquisa intensa marcada por estudo e experimentação. Sobre o método, Fanny explica que, “o papel carbono dialoga com o racismo estrutural, essa cópia, essa perpetuação invisibilizada. Ele tem muitas camadas para trabalhar esse tema. A ablação traz essa luz, e o que eu quero é isso, resgatar essas histórias e memórias.”
Trajetória da artista
Deltreggia é artista especializada em desenho com lápis grafite e graduanda em Artes Visuais. Vive em Americana, onde desenvolve técnicas inovadoras para investigar e revelar as marcas deixadas pela escravidão e pelo racismo na identidade brasileira. Ela já participou de diversas exposições coletivas, entre elas o Salão de Artes Visuais de Vinhedo e o Salão de Artes de Guaratinguetá.
A maternidade foi decisiva em sua trajetória, a artista é mãe de uma mulher preta. “Quando minha filha nasceu, comecei a perceber silêncios e estranhamentos”, relatou. “Quando iniciei minhas obras autorais, comecei com o tema do racismo estrutural justamente para trazer essas histórias e para que a gente possa falar sobre isso.”
Expansão da pesquisa artística
Além das obras autorais, a artista realiza trabalhos comissionados, que contribuíram para aperfeiçoar sua técnica e aprofundar sua investigação sobre identidade visual. Em sua busca por novas linguagens, encontrou no papel carbono um meio de expandir sua pesquisa.
Fanny ressaltou que deseja sensibilizar os visitantes. “Espero que cada um seja tocado de alguma forma, que reflita sobre nossas relações, sobre a estrutura que nos molda, e comece a agir. O que eu quero é isso, consciência e ação.”
Impressões dos visitantes
O advogado Felipe Veiga afirmou que “muito além do conceito, a história e as sensações que cada obra traz, sobretudo os rostos na técnica de ablação, têm expressões fortes sobre a luta das pessoas pretas ao longo da história.”
Para o cirurgião-dentista Carlos Rondelli, a exposição representa muito para a identidade do povo preto. “A Fanny representa isso de maneira maravilhosa, com uma técnica que a gente não conhecia. A exposição está maravilhosa”, acrescentou.
O funcionário público José Carlos destacou o simbolismo do papel carbono. “É algo que fica escondido há muito tempo. A ideia do carbono marcar no branco é muito simbólica. O apagamento da história preta na região é real. Quando você vê numa obra algo que já sentia, mas não sabia expressar, é muito bom”, comentou.
A exposição também está disponível online através do site oficial da artista.





