Anda cada vez mais difícil encontrar uma empena vazia e cinzenta em São Paulo. Nos prédios da capital mundial do grafite, como ficou conhecida a cidade, nenhuma daquelas paredes livres de janelas parece imune a um banho de tinta -principalmente depois da quarentena.
Basta um passeio no Minhocão para ver no concreto o desenho de um rosto formado por emaranhado de ruas. Perto dali, criaturas marinhas colorem prédios próximos ao Copan, projetado por Oscar Niemeyer. O arquiteto, aliás, aparece em um retrato de 52 metros de altura pintado pelo artista Kobra em um edifício visto da avenida Paulista.
Com museus e galerias de arte fechados, São Paulo funciona como um museu a céu aberto recheado de murais coloridos. Muitos assinados por nomes badalados, como o próprio Kobra, a dupla Osgêmeos, Nina Pandolfo, Crânio, Pri Barbosa, Enivo e outros.
E os grafites parecem estar aumentando. Na pandemia, enquanto tudo estava parado e de portas fechadas, as latas de spray não descansaram.
O Festival de Arte Urbana NaLata, por exemplo, entregou no fim de agosto 12 obras de 15 artistas na região do largo da Batata, em Pinheiros. O ideal por ali é fazer o circuito a pé -e quem sabe emendar uma visita ao Beco do Batman, referência nessa arte.
Também durante a quarentena, o produtor cultural Kléber Pagu propôs um projeto de lei para elevar a cidade à categoria de galeria a céu aberto, oficializando como polos culturais 30 pontos conhecidos por abrigar grafites. Entre eles, o Beco do Batman, na Vila Madalena, e o Minhocão, que fica na região central.
A proposta foi apresentada na Câmara Municipal pelos vereadores Quito Formiga, Eduardo Suplicy e Toninho Vespoli, mas ainda não tem uma data para ser votada.
O projeto prevê também a manutenção das intervenções, o que proibiria o seu apagamento pela prefeitura -como aconteceu em 2017, quando a gestão Doria cobriu grafites na avenida 23 de maio, entre eles um de Osgêmeos.
A proposta ajudaria ainda o Museu Aberto de Arte Urbana, inaugurado em 2011 com 66 painéis feitos nos pilares da linha do metrô, entre as estações Santana e Portuguesa-Tietê. Nove anos depois, as obras estão desgastadas e cobertas por lambe-lambes.
Enquanto o projeto de lei não avança, Pagu trava outro embate em relação aos grafites da capital. Em novembro do ano passado, a Justiça suspendeu a pintura do mural “Aquário Urbano”, no centro.
A intervenção pretendia ser a maior do mundo, com 10 mil m² e 15 prédios, mas foi interrompida porque um dos edifícios não permitiu a pintura.
Mas, mesmo incompleta, já é possível visitar a atração. A seguir, veja um roteiro por grafites novos e consagrados de São Paulo – ideal para quem sente saudade dos museus, mas quer fugir de espaços fechados. É só pegar máscara, álcool em gel e aproveitar.