sexta-feira, 19 abril 2024

Curta brasileiro ganhador em Cannes pode virar longa-metragem

‘Céu de Agosto’ ganha reconhecimento em festival ao abordar o desamparo nacional

Laje | Filme mostra escuridão que toma o céu paulistano (Foto: Reprodução/ Facebook)

Queimadas ocorridas na fronteira entre Paraguai e Mato Grosso do Sul, somadas a uma frente fria, levaram o céu de São Paulo a uma escuridão, em agosto de 2019. Naquela mesma tarde, o fenômeno causou um efeito oposto em Jasmin Tenucci. Ao ser arrebatada por aquela densa camada de nuvens e fumaça cinzentas, a mente da diretora se iluminou e ela decidiu escrever.

Daí surgiu o roteiro de “Céu de Agosto”, filme que acaba de lhe garantir uma menção especial no Festival de Cannes – a Palma de Ouro da seção foi para a chinesa Tang Yi. Ele foi um dos três curtas-metragens brasileiros exibidos no evento cinematográfico, o mais importado mundo, ao lado de um par de longas nacionais e outras coproduções.

Em seus 16 minutos de duração, “Céu de Agosto” acompanha uma enfermeira grávida que, durante um chá de bebê na laje, é encoberta pela escuridão que toma o céu paulistano de assalto. A cena é digna de filme de apocalipse, e a ansiedade que recai sobre a antes não religiosa Lucia logo a impele para uma igreja neopentecostal.

Foi realmente por acaso que o filme aconteceu. Tenucci tinha acabado de conseguir verba para um outro curta-metragem quando teve a ideia para “Céu de Agosto”. Ela então persuadiu seus financiadores a reinvestir o dinheiro no novo projeto – e a decisão, depois da passagem pela costa francesa, não poderia ter sido mais acertada.

“Ter sido selecionada já havia sido uma honra enorme. Foi realmente uma surpresa e a minha primeira alegria foi saber que poderia exibir o filme na tela grande”, diz Tenucci, num momento em que muitos cineastas têm limitado suas obras às telinhas da TV e do streaming por causa da pandemia. O Festival de Cannes, que chegou a ser cancelado no ano passado, pôde nesta edição reunir seus espectadores em salas de cinema.

“Eu achei que jamais veria ‘Céu de Agosto’ na tela grande, e ir para Cannes significava ainda ter a certeza de que o filme poderia ser muito mais visto, discutido, pensado. Só por isso já foi um privilégio enorme. O reconhecimento com a menção também é muito bom. Eu gosto de tomar cuidado com isso porque tem muito filme brasileiro excepcional que não entra nesses festivais por diversas razões, mas, claro, é uma honra”, afirma.

Tenucci estava nos Estados Unidos às vésperas do evento e voou de lá, já 100% imunizada, diretamente para a França. Sua equipe, no entanto, estava no Brasil, sem vacina, mas conseguiu o que ela chama de um “passe de urgência” para viajar e participar do festival presencialmente. Lá, a cada 48 horas, era necessário fazer teste para a Covid-19.

Durante a passagem por Cannes, Tenucci arquitetou, junto com as equipes de outras produções brasileiras em exibição, um protesto após a sessão de “O Marinheiro das Montanhas”, do cearense Karim Aïnouz. “Brasil: 530 mil mortos. Fora, gângster genocida”, lia-se na faixa empunhada pelo grupo, em referência às mortes causadas pelo coronavírus no país.

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