segunda-feira, 16 setembro 2024
DE AMERICANA PARA O MUNDO

Dançarina americanense é selecionada para atuar em uma das maiores casas de Hip Hop do mundo

Carolini Soares, de 27 anos, faz parte do clube The One, em Bahrein, no Oriente Médio
Por
Isabela Braz
Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal

Dançarina de Hip Hop americanense, Carolini Soares, de 27 anos, saiu de Americana para viver da dança em uma oportunidade única. A artista que se dedica à arte desde criança, foi selecionada para dançar em um dos maiores clubes de hip hop do mundo.

Durante alguns meses, Carol fará parte do “The One”, um clube em Bahrein, no Oriente Médio.

O convite veio num momento oportuno e de novidades na vida da artista, que clássica a nova fase como uma porta aberta importante para sua trajetória artística. Ela que já tem em seu currículo trabalhos importantes como oficinas de dança, uma apresentação na Copa América de 2019 realizada no Brasil e atuação desde 2022 no grupo de rap Haikaiss.

Foi por meio do Haikaiss, aliás, que a artista tinha vislumbrado a possibilidade de ter a sua primeira viagem internacional a trabalho, mas os shows foram cancelados no momento em que Carol já havia dado entrada em seu passaporte.

“Eu comecei a correr atrás de fazer meu passaporte, mas nosso show foi cancelado. Numa quarta-feira eu fui buscar meu passaporte, entrando no ônibus eu já havia pensado em quando iria conseguir ter meu primeiro carimbo. Eu nunca tinha feito um passaporte por não poder visualizar que aquilo fosse palpável, porque tudo em volta não fazia com que fosse”, diz ela, lembrando dos momentos antes dessa oportunidade.

Com o passaporte em mãos, mesmo sem previsão de um dia novamente poder ter uma viagem, no dia seguinte Carol recebeu a mensagem de um amigo, também dançarino, relatando sobre a procura de uma dançarina de hip hop para dançar fora do país. Na quinta-feira Carol foi indicada e no mesmo dia conheceu a proposta e teve o perfil aprovado.

“Nesse dia eu pensei quando é que eu vou ter a idade e a saúde que eu tenho hoje? Vou aproveitar. Não sei quando essa oportunidade vai aparecer de novo e na quinta-feira mesmo eu disse aceito, na loucura”.

De um dia pro outro, a jovem que acreditava ter perdido a chance de dançar pra fora teve uma proposta única, e em uma semana organizou suas coisas e de mala pronta saiu da América para vivenciar o mundo na Ásia.

“Eles estavam realmente procurando alguém que fosse do meio do Hip Hop de fato. É o maior clube de Hip Hop do país, eles precisavam mesmo de uma qualidade. Aqui eles sabem o que é mesmo. Em Bahrein boa parte da cidade é envolvida em clubes, é um lugar de visitação, de festa, e envolve muito hip hop. O público que frequenta parece até que saiu de um videoclipe de tão real nessa cultura que é”, detalha ela, reforçando que a realidade lá é impressionante.

A ficha demorou a cair, mas aos poucos, no dia a dia dessa realidade, Carol reconhece o esforço de seu trabalho para chegar até ali.

Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal

INGRESSO NA DANÇA

Sua trajetória na dança deu-se início ainda muito nota. Vinda de família de artistas, a dançarina desde cedo foi incluída em um universo cultural. Filha de pais músicos, aos oito anos se interessou pela dança e nunca mais parou.

Ao ouvir músicas do rapper norte-americana Tupac, ainda criança se conectou com o Hip Hop e decidiu que iria fazer desse gênero a sua arte, mas antes do universo das danças urbanas, passou pelo jazz, ballet e contemporâneo. “Há 20 anos atrás, em Americana era muito escasso. Tinha alguns grupos, tinha um movimento, mas não para a minha idade”, detalha.

Por volta dos 13 anos, Carol iniciou aulas regulares no CCL (Cento de Cultura e Lazer) de Americana, pelo grupo Hip Hop Connection – grupo formado em 2012, que resiste até os dias de hoje. Lá ela aprendeu a história, os movimentos e mergulhou de fato na arte.

“Mas sempre quando me perguntam quando eu me descobri artista eu falo que eu não me descobri, eu já estava lá, eu não descobri algo que já estava dentro de mim”, diz orgulhosa.

Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal

ARTE NO INTERIOR

Enquanto o hobby de infância foi se tornando profissão, a artista já trabalhava muito cedo para bancar as mensalidades.

Para Carol, viver de arte no Brasil já é difícil, mas no interior há ainda mais desafios. O que não quer dizer que não são possíveis de serem superados. Para ela, estar lá, abre os olhos dela sobre como o hip hop muda a vida das pessoas para além de um lugar só.

Muitos acreditam que para viver de arte, a migração para as grandes capitais brasileiras é necessária, mas exemplos como o de Carol definem como a arte respira em todos os cantos do Brasil, até mesmo em pequenas cidades do interior.

“Eu sempre fui uma pessoa que falava para as pessoas que não precisa pensar que só vão conquistar as coisas se saírem daqui, vocês podem conquistar as coisas trabalhando na cidade de vocês […] eu sempre tentei provar não só pra mim, mas para os que andam comigo, em como é provável e viável que dava sim para acontecer uma cena no interior “, define a americanense.

Foto: Divulgação/ Arquivo Pessoal

HIP HOP

Inicialmente predominante nas periferias brasileiras, o Hip Hop é um dos exemplos culturais que abrange diversos modelos de arte em um só movimento: rap (ritmo e poesia) com os MCs, a discotecagem com os DJs, as artes visuais com os grafites e a dança.

Questionada sobre a importância do Hip Hop, Carolini se emociona. “Para a minha vida ele representa luta, representatividade, uma cultura tão marginalizada por todos esses anos. O hip hop salvou minha vida e vem me ajudado a salvar outras pessoas”, diz emocionada. Para ela, a cultura abrange e abraça quem muitas vezes é deixado de lado.

“É uma cultura que fala pelo povo, que fala de raízes, que fala de história. Eu sinto que me represento quando eu entendi que eu fazia parte daquilo e não porquê eu escolhi e sim por eu ter sido escolhida para isso. É quem eu sou, é o que eu transmito, o que eu falo, o que eu vivo, a roupa que eu visto. Tem a Carol e o hip hop e eles são a mesma coisa praticamente”, complementa.

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