Produtos à base de vegetais estão em franco crescimento. Até 2035, o setor tem previsão de movimentar entre US$ 100 bilhões (R$ 542,32 bilhões) e US$ 370 bilhões (R$ 2 trilhões), segundo dados compilados pelo The Good Food Institute, da área de inovação na indústria de alimentos.
Além de multinacionais, o segmento vem atraindo a atenção de empresas pequenas e médias – que lançaram, nos últimos meses, de mistura vegetal para um preparo semelhante ao ovo mexido, alternativa a leite feita de aveia a hambúrguer com fibra de caju como matéria-prima.
O grande desafio dessas marcas é desenvolver fórmulas que substituam ingredientes de origem animal, mas mantenham atributos como textura, cor e sabor – para um público que não é mais só de vegetarianos e veganos.
O N.OVO, que surgiu em 2019 como produto à base de vegetais para substituir ovo em receitas, segue a tendência do consumidor que busca uma alimentação mais sustentável.
“Se tivermos de rotular nosso público, são os ‘flexitarianos’, pessoas que não querem se tornar veganas ou vegetarianas, mas estão dispostas a experimentar coisas novas”, diz Amanda Pinto, 29, fundadora.
A embalagem com 132 gramas custa R$ 14 e equivale a 12 ovos. A marca é hoje independente, mas nasceu dentro do Grupo Mantiqueira.
Agora, o negócio vai distribuir no varejo um novo produto, substituto para o preparo de omelete e ovo mexido (ainda sem preço). À base de soja e ervilha, o N.OVO mexido é um pó que recebe adição de água e, depois de misturado, tem preparo semelhante ao do ovo convencional.
“Foi um produto desafiador porque ele precisa cair líquido na panela e chegar a uma textura muito específica à medida que é aquecido, com cor e aroma de um ovo tradicional.”
Empresas que se dedicam à inovação na área de alimentos têm de pensar nas características sensoriais do produto e na sua capacidade de ser feito em escala, diz Genésio Vasconcelos, professor da Saint Paul Escola de Negócios.
“Um gargalo é elevar a produção e manter as características iniciais. É preciso descobrir como ir do quilo à tonelada”, diz ele, que atua no setor de prospecção e tecnologias da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), no Ceará.
Para serem viáveis, muitos produtos “plant-based” (à base de plantas) precisam de testes em laboratórios, que são custosos. Um caminho para a empresa se financiar é participar de rodadas de investimento.
Giovanna Meneghel, 35, diretora da Nude., linha de bebidas à base de aveia orgânica, lançou sua marca em dezembro com capital da venda de um apartamento e da captação de R$ 2 milhões.
A marca contratou um especialista em tecnologia de alimentos e realizou testes em um laboratório terceirizado durante um ano. Hoje, vende cinco versões em cem pontos de venda no país, com preço entre R$ 15,90 e R$ 19. Até o fim do ano, pretende lançar um creme de leite à base de aveia.
Uma parceria com a Embrapa ajudou a Amazonika Mundi a lançar, em novembro, hambúrgueres e bolinhos feitos com fibra de caju (preço sugerido entre R$ 14,95 e R$ 21).
“A Embrapa deu apoio nas receitas, na escolha de ingredientes e no valor nutricional”, diz Cello Camolese, 55, um dos sócios da empresa, de Niterói (RJ).
A vantagem do uso do caju, segundo Cello, é que a sua fibra ajuda a conferir textura. A Embrapa também trabalha com outras linhas de pesquisa, incluindo uma que prevê o uso de feijão como matéria-prima de proteínas vegetais em produtos à base de plantas.
Fabio Zukerman, 41, à frente do Grupo Planta, que existe desde 2018 e reúne diferentes marcas plant-based, diz que foi preciso mostrar nos últimos anos que comida vegetal pode ser saborosa.
Integrantes do negócio, o restaurante Green Kitchen e uma cozinha voltada ao delivery, ambos em São Paulo, têm papel importante para quebrar preconceitos, diz ele. “Investi há dois anos em uma empresa de queijos vegetais, a Basi.co, e usei essa rede para mostrar ao consumidor que esse produto também derrete, gratina e vai bem na tábua.”
A estrutura da cozinha industrial também funciona como uma espécie de marketplace com cerca de 50 produtos veganos, vendidos por aplicativos.
Uma linha de açougue está começando a ser vendida agora, com produtos análogos à carne feitos com proteína de ervilha, entre eles cafta, costela e pancetta, vendidos para finalização em casa.