O escritor Marçal Aquino, vencedor do Prêmio Jabuti de 2000 com a coletânea de contos “O Amor e Outros Objetos Pontiagudos”, estará em Campinas no sábado (29) para uma tarde de conversa e autógrafos. O encontro marca o lançamento da edição comemorativa de 20 anos do romance “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”. Em entrevista exclusiva à TV TODODIA, ele comentou detalhes da nova edição e relembrou os bastidores da obra.
A publicação chega às livrarias com nova roupagem gráfica, além de um pósfácio assinado pela professora e crítica literária Eliane Robert Moraes. O autor também acrescentou um texto inédito sobre a origem do nome do romance. “Muita gente imagina que o título foi um sucesso desde o começo, mas, na verdade, quando decidi escrever um livro com esse nome, enfrentei uma oposição quase unânime”, afirmou, em tom descontraído. Segundo ele, o título era considerado longo e pouco atrativo, mas acabou se tornando decisivo na escolha de muitos leitores. “Muita gente me disse que comprou o livro por causa do título”, comentou o escritor.

Experiências como repórter e construção da narrativa
Ambientado em uma cidade fictícia do Pará, o romance acompanha o fotógrafo Cauby e sua relação com Lavínia, mulher sedutora e enigmática casada com um pastor evangélico que a retirou das ruas e das drogas. A narrativa nasce de experiências reais vividas por Aquino como repórter. Jornalista de formação, atuou em veículos como O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde. “Tive muitas experiências de reportagem. Estive em Marabá, no Pará, no garimpo. Se você olhar o que escrevo em ficção, toda ela tem alguma ligação com experiências reais, ainda que eu as use apenas como ponto de partida”, explicou.
A ideia do título precedeu a construção da trama. O escritor conta que havia anotado a frase dois anos antes e aguardava uma história que estivesse à altura. “Quando comecei a escrever sobre o fotógrafo que vai ao Norte e vive uma experiência única com uma mulher indecifrável, percebi que era o momento”, relatou. A ambientação também se estabeleceu de forma natural. “A história se passava no Pará, numa zona de garimpo, numa área conflagrada. Meu modelo era Marabá, mas não é Marabá; é uma cidade fictícia”, explicou o autor.
Do livro ao cinema
As páginas do livro foram transportadas para as telas do cinema em 2011, em filme dirigido por Beto Brant e protagonizado por Camila Pitanga. Aquino elogia a escolha da atriz para interpretar Lavínia e destaca a parceria com o diretor. “O Beto sempre foi extremamente democrático, compartilhava dúvidas e escolhas”, disse. Sobre Camila, afirmou reconhecer imediatamente a adequação: “Eu queria uma mulher brasileira. A Lavínia é capixaba no livro. A escolha do Beto foi muito feliz”.
Censura em Goiás e debate público
Publicada em países como Alemanha, França, México e Portugal, a obra de Aquino ganhou novo capítulo em 2023, quando a Universidade de Rio Verde (GO) retirou o livro da lista de leituras obrigatórias após pressão do deputado federal Gustavo Gayer (PL), que classificou a obra como “pornográfica” nas redes sociais. Aquino recorda o episódio com surpresa e crítica. “A maior surpresa não foi o deputado, foi a Universidade acatar isso”, afirmou. Ele diz acreditar que o parlamentar não leu o livro: “Alguém disse a ele que a obra tinha palavras de baixo calão, e ele se insurgiu. Pensei: ‘O cara levou 20 anos para ler o livro?’”.
Mesmo com a polêmica, o autor tentou promover um debate público sobre o assunto. “Propus que conversássemos na Universidade, para explicar o que considero pornográfico e ouvir o que ele considera pornografia. Mas ele fugiu da raia”, relatou. Para Aquino, a reação teve motivações eleitorais: “Parece que ele é candidato ao governo de Goiás. Ou seja, comportou-se como um político brasileiro”.





