A escritora campineira Izadora Silva Pimenta, radicada na Alemanha, lança seu primeiro livro O Conto da Ruptura pela Editora Minimalismos. A obra, já em pré-venda e com lançamento oficial previsto para janeiro de 2026, em Campinas, reflete sobre amor, memória e identidade.
Em 50 páginas, a autora constrói uma jornada que começa pelo fim e leva o leitor a revisitar a força das lembranças e o sentido de permanecer.
Um livro que nasceu de fragmentos
A ideia do livro surgiu a partir de leituras e experiências que se misturaram no tempo. Izadora conta que voltou ao Brasil e, ao reler Clarice Lispector, sentiu vontade de experimentar uma escrita mais livre.
“Comecei a escrever depois de reler Clarice. No ano passado, também li bastante James Joyce. A vontade de criar um fluxo de consciência me impulsionou”, lembra.
Inspirada nessa técnica, que busca reproduzir o pensamento interno das personagens, Izadora constrói uma narrativa curta, mas densa, em que duas pessoas seguem caminhos distintos até se cruzarem. O encontro entre elas é menos importante que o percurso. “Os caminhos são mais significativos do que a própria conexão”, observa.

A escolha de começar pelo fim
O Conto da Ruptura é uma narrativa não linear. Izadora decidiu começar pelo desfecho, transformando o fim em ponto de partida. “O fim não é importante. Queria mostrar como as memórias continuam vivas mesmo depois de um relacionamento acabar”, explica.
Essa estrutura cria um efeito circular, em que o leitor revisita fragmentos de uma história já encerrada, mas ainda pulsante. A autora mostra que encerrar não é o mesmo que esquecer é aprender a conviver com o que permanece, mesmo quando o tempo tenta apagar.
Reflexões sobre pertencimento e identidade
Além das relações amorosas, a obra toca em um tema central para Izadora, o pertencimento. Morando na cidade de Darmstadt, na Alemanha, desde 2019, ela
reconhece que viver fora do país transformou sua forma de olhar o mundo. “Para sobreviver neste lugar, a gente cria uma casca, uma impressão de si que batalhou tanto para construir que não consegue perder”, reflete.
A escritora observa que esse sentimento de deslocamento é comum a quem vive entre culturas. “Queremos manter nossa essência, mas às vezes nos sentimos pressionados a criar uma imagem que não é a verdadeira, só para ser aceitos.”
No livro, as personagens vivem exatamente esse conflito, a liberdade de escolher seus caminhos contrasta com o peso das origens que as moldaram. A convivência entre diferentes realidades, línguas e expectativas faz com que o amor apareça não como idealização, mas como tentativa, uma busca por se reconhecer no outro sem desaparecer de si.
Amor sem idealizações
Izadora rejeita o romantismo tradicional. O conto apresenta um relacionamento marcado por tensões, escolhas e limitações. “Uma das personagens percebe que nunca consegue ultrapassar a barreira da máscara do outro”, explica.
“Cada um vive realidades muito diferentes. É um relacionamento que exige compreensão, não apenas entrega.”
A autora acrescenta que o livro também fala sobre encerrar ciclos. Em alguns trechos, a protagonista escreve como se conversasse com quem ficou no passado, apenas para organizar o que restou. “Por mais que algo volte à memória, está encerrado, é só uma lembrança”, diz.
Saudade como permanência
Em O Conto da Ruptura, a saudade é tratada não como falta, mas como permanência. “Morar fora me fez entender que sentir saudade não significa querer algo de volta; é aprender a conviver com o pensamento”, comenta Izadora.
A autora explora como certos sentimentos não têm tradução exata em outros idiomas. Essa percepção atravessa toda a narrativa, transformando a saudade em uma presença silenciosa, um vínculo que não exige retorno.
Escrever em português como escolha
Mesmo vivendo fora do Brasil, Izadora nunca pensou em escrever em outro idioma. “Escrever na minha língua materna é a única forma de traduzir sentimentos complexos de maneira autêntica. A língua dá contexto e sentido para tudo que coloco no papel”, afirma.
O português, para ela, é mais do que ferramenta: é território emocional e político. A escolha reafirma suas raízes e garante à escrita uma textura de pertencimento que seria impossível em outra língua.
O lançamento e o que vem a seguir
O Conto da Ruptura está disponível em pré-venda no site da Editora Minimalismos (www.editoraminimalismos.com) pelo valor promocional de R$ 45,00. O lançamento oficial em Campinas, no início de 2026, marca o retorno da autora à cidade natal.
Izadora revela que já tem um segundo livro pronto, mais extenso, mas igualmente introspectivo. “O Conto da Ruptura é curto, mas não simples. O próximo será mais longo”, adianta.
Com uma escrita que atravessa fronteiras e resgata origens, Izadora Silva Pimenta estreia no cenário literário com uma voz madura e sensível — uma autora que transforma silêncio, deslocamento e memória em matéria literária.





