A noite de ontem (19), véspera do feriado do Dia da Consciência Negra, foi marcada com a entrega da Medalha Zumbi dos Palmares para 5 ativistas barbarenses que lutam pela causa, na Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste.
Entre os homenageados da noite, estão Milton Fonseca, Julia Motta, Paulo Francisco Celestiano, Elisângela Lambstein Franco de Moraes e Victoria Pereira Aisha.
As indicações foram realizadas através do vereador Celso Ávila (PV), por meio de uma propositura protocolada na Casa do Poder Legislativo barbarense, que homenageia os indicados por suas atuações na luta pelo combate ao racismo e favor da cultura afro-brasileira.
Julia, uma das homenageadas, lançou seu primeiro livro, “Resistir para Existir”, que aborda principalmente a história de mulheres negras que foram silenciadas ou mortas. Atualmente, junto com a mãe, Silvia Motta, ela desenvolve, entre outras atividades, o projeto Versos e Resistência, no Centro Cultural do Roberto Romano.
IMPORTÂNCIA
“Recebi a notícia através dos meus pais. Os sentimentos foram de agradecimento aos mais velhos e a todos que contribuem e fortalecem para estarmos presentes na luta em busca de um futuro melhor, tornado satisfatório a nossa luta. Agradeço a todos que contribuem e fortalecem pra que tudo isso possa acontecer. Acredito no poder das palavras e faço delas parte da minha luta”, disse.
Para ela, receber a medalha tem um grande significado de reconhecimento por ser negra e ter um trabalho que desenvolve em busca da história e identidade. “Aos meus 17 anos estar sendo homenageada através de toda luta de meus ancestrais é de extrema importância para que tomamos consciência dessa nossa resistência”, explica a jovem.
Julia explica ainda que o Dia da Consciência Negra é um marco na história pela liderança negra de Zumbi dos Palmares, o que torna essa uma data de grande importância para reflexões sobre a causa e a história. “Ter consciência de qual é a nossa realidade atual e a cultura que nos dá voz de manifesto. A data representa todos os ancestrais que lutaram antes de mim mesma para poder estar viva hoje. Reconheço todos os padrões que nos afastam do sistema e sei quão importante é a nossa resistência em todos os lugares”, completa.
MEDALHA É ENTREGUE PARA TRAVESTI NEGRA PELA 1ª VEZ
VICKY | Artista e ativista da juventude negra e LGBT
Victoria Pereira Aisha, também conhecida como “Vicky Aisha”, foi mais uma das homenageadas da noite. Esta ação fez história, pois, pela primeira vez, uma travesti negra receberá a medalha.
Segundo ela, a indicação de seu nome partiu da Associação de Capoeira Motta e Cultura Afro, mais especificamente através da Mestra Silvia Motta, há cerca de dois meses. “Em um primeiro momento foi algo muito rápido e não deu pra pensar muito na hora. Fiquei muito emocionada, porém receosa. É difícil lidar com seus sentimentos em um país que te quer morta”, denuncia. Afinal, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo e o 5º que mais consome pornografia protagonizada deste gênero.
Para a poeta Vicky, a homenagem representa muito mais além do Dia da Consciência Negra. “Pra mim, enquanto negra em movimento, esse tal 20 de novembro é todos os dias. Então não penso só em uma data comemorativa. É uma data de resistência, uma data de luta, em que não queremos holofotes, mas queremos o fim do genocídio da juventude negra”.