sexta-feira, 22 novembro 2024
LITERATURA

Sebos, o acervo da cultura brasileira em prateleiras

A Rede TODODIA entrevistou o dono de um dos sebos mais tradicionais de Americana
Por
Ana Flávia Defavari
Foto: Reprodução | José Eduardo Milani | Rede TODODIA

Mesmo que não tão comuns hoje em dia, os sebos ainda fazem parte da cultura brasileira e são os detentores de um acervo com títulos antigos e novos que retratam a história da cultura brasileira em música, literatura, arte seja composto de títulos raros ou comuns.

Acredita-se que os sebos surgiram na Europa por volta do Século XVI quando mercadores começaram a vender papiros e documentos antigos à pesquisadores da época, mercadores esses que ganharam a alcunha de alfarrabistas uma vez que alfarrábio significa livro velho, antigo. No Brasil essa prática teria começado em meados do século 19 com a colonização do Brasil e a vinda da família real para o país.

Porém o nome sebo teria surgido onde? É possível achar algumas versões para o porquê do uso do nome “Sebo” para essas livrarias de antiguidades, os mais populares são de que antes da energia elétrica as pessoas usavam velas para ler e estas quando derretidas soltavam uma gordura que ao cair nos livros os tornava sebentos, gordurosos. Outra versão seria a dos jovens que no anseio por aprender não desgrudavam dos livros e sempre os tinham embaixo do braço deixando-os sujos e ensebados.

Independentemente da verdade para a origem do nome, os sebos se enraizaram no Brasil e atualmente vendem mais que livros velhos podendo encontrar exemplares de discos de vinil, gibis, cds, dvds, lps, bluerays e demais fontes culturais novos e antigos.

A Rede TODODIA entrevistou Luiz Carlos Sanajotti, o dono de um dos sebos mais tradicionais de Americana, o Sapiente.

Ao ser perguntado sobre a importância dos sebos para a cultura brasileira e o resgate que a existência dos sebos traz para a geração atual, Luiz conta que “Os sebos trazem um conhecimento a aquele que não tem meios de acessar algo tão caro, porque o conhecimento nos traz a libertação de muitas coisas que às vezes a gente ignora, que às vezes é estabelecida por uma conjuntura social de regras, o conhecimento faz com que você se liberte e isso faz com que você reflita melhor para não ser tão sectário ou dogmático em relação a determinadas, a determinados conceitos de achar que é o dono da verdade”.

É evidente a qualquer um que as gerações mais novas não têm conhecimento da importância dos sebos e que existe uma diferença muito grande dos anos iniciais, da cultura do sebo e tudo mais para hoje em dia. Luiz diz que “O sebo se tornou um lixo para alguns, porque são recicláveis, mas ainda é um luxo, entende?” e cita uma frase de Carlos Drummond de Andrade que para ele define bem os sebos e que diz que “O sebo é a verdadeira democracia, para não dizer: uma igreja de todos os santos, inclusive os demônios, confraternizados e humildes não um cemitério de papel, mas o território livre do espírito, contra o qual não prevalecerá nenhuma forma de opressão”.

Estando há mais de 30 anos com a loja no mesmo ponto de Americana, bem no centro, Luiz conta que o começo da loja foi algo mais natural do que realmente a criação de um comércio “Dizem que o sebo é que nem criação de rato. Você começa com dois, três, daqui a pouco tem 50, tem 100. Hoje a gente tem um acervo mais ou menos de 15 a 16 mil livros.”

E completa que “A gente tem de tudo, instrumentos musicais, CD, DVD, vendemos vinil e fita cassete ainda! Então o que é cultural? O que é do conhecimento? A gente não abandonou essas coisas, porque cultura não é uma coisa que você mata ela fácil”.

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