sexta-feira, 22 novembro 2024

Americanense concorre ao Puskas

Um americanense, que já vendeu balas no semáforo para pagar as contas, desponta como candidato ao badalado Prêmio Puskas, entregue anualmente pela Fifa ao autor do gol mais bonito da temporada. Felipe Augusto de Oliveira – ou só Felipe Augusto, no mundo da bola – é um rapaz de 24 anos, meia do Kerċem Ajax, em Malta, república localizada no Mar Mediterrrâneo, a 93 quilômetros ao sul da Sicília (Itália).

Apesar de jovem, já passou por maus bocados correndo atrás da pelota. Jogou em times pequenos do interior, lutando contra salários minguados, até ser “descoberto” por olheiros. Para chegar até Malta, vendeu relógio, tênis, televisão, o que tinha em casa. Assim, ele comprou a passagem e desembarcou na Europa, sem falar um palavra em outro idioma. Ele fez testes, tomou cabeçadas e, quando já pensava em voltar, foi aprovado pela comissão técnica do clube, que o contratou.

Felipe assinou contrato há um ano, é titular, e hoje ganha seu dinheirinho. Não ficou rico, longe disso, mas ao menos vive com dignidade por lá. O lance que promete alavancar sua carreira aconteceu no final de janeiro. O Kerċem jogava contra o Victoria Wanderers e precisava vencer de qualquer jeito, para se manter na elite da liga.

A equipe vinha bem, já fazia 1 a 0, quando veio a consagração, aos 35 minutos de jogo. Felipe, ainda no campo de defesa, recebeu uma bola cortada pelo zagueiro. Com três toques cortou o marcador, ajeitou e bateu consciente para marcar do outro lado, a 55 metros de distância. “Nem o Pelé conseguiu”, se diverte o rapaz, numa alusão ao histórico lance da Copa de 70, quando o Rei tentou surpreender o Vijtor, da Tchecoslováquia e chutou do meio-campo. A bola não entrou. A partida terminou 3 a 1 para o time de Felipe, mas o melhor jogo apenas começou.

Os amigos e parentes começaram uma campanha para incentivar, nas redes sociais, o apoio dos torcedores à indicação do gol ao prêmio, no fim do ano. Mesmo tipo de campanha que levou outro brasileiro, Wendell Lira, a faturar o Puskas há três anos, pelo lindo gol marcado pelo modesto Goianésia. Felipe sonha com o mesmo final. Acha que a indicação vai torná-lo conhecido e que pode emplacar de vez na carreira, chamar a atenção de um clube grande, na Europa ou no Brasil.

O contrato com o time de Malta já se encerrou, Felipe negocia a renovação. O rapaz não esconde que o sonho dele é jogar no Corinthians e garantir uma vida ainda melhor para a família, que mora no Mollon VI, em Santa Bárbara. Daqui, a gente fica na torcida.

Trajetória do meia até a Europa

Felipe Augusto começou aos 13, passou por Grêmio Barueri, Inter de Porto Alegre e Juventus. Jogou a Copa Paulista e rodou por clubes menores do interior de São Paulo: União São João, Presidente Prudente, Grêmio Mauaense. Em Prudente, na quarta divisão, é que teve de vender balas no semáforo. Morava em república, não recebia salário e precisava pagar o aluguel. Foi um olheiro que o levou à Foz do Iguaçu (PR), onde se firmou na carreira e teve a ajuda de um amigo que divulgava vídeos seus em clubes europeus. Aí é que chegou o convite para testes em Malta. Para ajudar o meia nas redes, é só entrar na campanha pela hashtag #FelipeAugustoNoPuskas.

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