A principal adesão é a de Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no governo Michel Temer, que fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago, mais famoso centro difusor do liberalismo econômico mundial.
Os dois tiveram uma conversa telefônica há 20 dias, por iniciativa de Rabello, que se dispôs a colaborar com Ciro na parte econômica. Ficaram de conversar pessoalmente assim que a pandemia der uma trégua.
“Ele [Rabello] me ligou e me deu uma grande alegria, dizendo estar vendo a minha luta e que tinha a vontade de ajudar”, disse o presidenciável.
Além dele, Ciro também já conversou com outros economistas liberais, entre eles dois dos pais do Plano Real, Persio Arida e André Lara Resende -nesses casos, apenas para trocar ideias.
Ciro também tem mantido contato com os ex-ministros Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser Pereira, além do professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, todos os defensores do papel do Estado na economia.
No caso de Rabello, a ideia é que o contato inicial evolua para uma parceria. “Nós estamos buscando uma alternativa, um caminho verdadeiro para o Brasil”, disse o economista, que também presidiu o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no governo Temer.
Em Chicago, Rabello teve aula com diversos vencedores do Nobel de Economia, inclusive o mítico Milton Friedman, maior referência dessa escola de pensamento do século XX.
A universidade é também a alma mater do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas Rabello diz que as semelhanças com o xará terminam aí. “O Brasil precisa de um liberalismo popular, não do liberalismo financista do ministro Paulo Guedes”, afirma Rabello.
Este “liberalismo popular”, diz ele, envolve mudar o foco da política econômica para o aumento na taxa de investimento na economia, reforma tributária e preocupação com a empregabilidade dos mais jovens. “Você mal ouve falar em investimento, nesse liberalismo financista”, afirma.
No caso das privatizações, o economista defende que sejam mantidas, mas com mudança de foco. O caso da Eletrobras, diz ele, é emblemático. “Os financistas do governo querem pegar a Eletrobras e passar a ferro. A empresa está muito subavaliada”, afirma.
Segundo ele, qualquer processo de venda de estatais deve envolver a pulverização do capital. “Distribuir o capital estatal ao povo é essencial”, afirma.
O economista afirma que poderá ajudar na relação de Ciro com agentes de mercado, que ainda se assustam com a imagem estatista do candidato e seu discurso nacional-desenvolvimentista.
É uma avaliação equivocada, diz ele, já que Ciro tem como propostas reforma tributária e incentivos às exportações, além de descartar intervenções abruptas do Estado na economia. “Onde eu estiver, esse tal mercado vai saber que o Ciro vai errar muito pouco”, declara.
Rabello refuta paralelo com a nomeação de Guedes como “posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro, ainda na campanha presidencial de 2018.
“Falar em posto Ipiranga é repetir uma babaquice que não se aplica ao candidato Ciro Gomes, que já tem a economia na cabeça, foi até ministro da área [em 1994]”, diz Rabello. “O governo do Ciro terá como presidente um individuo de personalidade fortíssima”.
Num jogo de palavras, ele diz que o governo Ciro será “não o do posto Ipiranga, mas o do grito do Ipiranga”, metáfora sobre a necessidade de uma nova independência para o país, dessa vez do capital especulativo.
Desde a reabilitação dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro vem buscando ajustar o discurso a uma plataforma mais centrista, uma vez que o espaço à esquerda se tornou restrito.
Isso envolve acenos a partidos mais à direita, como o DEM, além de centristas, como PSD e Cidadania.
O próprio Rabello é filiado ao PSD no Rio de Janeiro, mas diz que sua iniciativa de dar apoio ao pedetista não tem caráter partidário. Em 2018, enquanto estava no PSC, foi candidato a vice-presidente na chapa de Alvaro Dias (Podemos).
Ciro também vem tentando suavizar sua imagem de político pavio curto e dado a grosserias eventuais, e para isso contratou o publicitário João Santana, que trabalhou em campanhas de Lula e Dilma Rousseff (PT).
O aceno ao mercado é uma nova parte dessa estratégia. A sugestão de reforçar o time econômico e criar uma espécie de porta-voz para a área foi dada por potenciais aliados.
O ex-ministro é famoso por despejar dados e cifras econômicas em velocidade acelerada em discursos e entrevistas, o que não agrada a diversos investidores.
Na campanha de 2018, Ciro tinha como assessores dois economistas de perfil mais keynesiano, uma escola de pensamento que se opõe ao liberalismo do Chicago e defende que o Estado seja o indutor da atividade produtiva.
São eles Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas, e Mauro Benevides Filho, que também é deputado federal licenciado (PDT-CE).
De acordo com Rabello, sua colaboração com o programa de governo do ex-ministro não tem o intuito de tirar o espaço de ambos. “O Marconi é uma pessoal de irretocável capacidade, ponderado, pensa antes de falar. O Mauro Benevides só não é um professor mais atuante porque é mais que isso, é deputado”, afirma.
Segundo ele, seria burrice mexer no time que está ganhando. “Eu sou um torcedor, um soldado para implementar um rumo novo para o Brasil”, diz.