terça-feira, 21 outubro 2025
FLORESCENDO DE NOVO - EP. 2

Especial Outubro Rosa: em caso de histórico familiar de câncer de mama, procure atendimento e faça acompanhamento

Após descobrir um nódulo durante a amamentação, Gislaine Lima de Freitas encarou o tratamento contra o câncer enquanto vivia os desafios da maternidade
Por
Nicoly Maia
Nesse processo, a rede de apoio é essencial para oferecer fortalecimento e incentivo. Foto: Ana Machado

Gislaine Lima de Freitas tinha acabado de dar à luz à filha caçula. Durante os seis meses de licença-maternidade, dedicou-se integralmente aos cuidados com a bebê. Foi ao se preparar para voltar ao trabalho que, durante um autoexame, percebeu algo diferente. “Eu senti um nódulo na mama e conversei com a minha ginecologista. Ela me acalmou, dizendo que poderia ser leite empedrado, o que acontece quando as mulheres amamentam, e que grávidas dificilmente têm câncer, né? Tudo bem, mas aquele nódulo na mama esquerda me incomodava, então ela me encaminhou para o mastologista.”

O diagnóstico inesperado
Com o encaminhamento, o mastologista confirmou a suspeita levantada pela ginecologista: poderia ser leite empedrado. Mas esse “apenas” se transformou em um novo desafio que Gislaine teria de enfrentar, e uma cirurgia foi marcada para investigar melhor o caso. “Fiz a cirurgia em outubro e, quando veio o diagnóstico, até ele ficou admirado. Disse: ‘realmente, seu diagnóstico é um tumor maligno, é um câncer, e a gente vai precisar fazer o tratamento’. Naquele momento, pra mim foi um desespero, porque eu tinha a Sofia, recém-nascida de seis meses, o Henrique com quatro anos e meio, e eu ia voltar pro trabalho, mas não pude. Ele me encaminhou pro oncologista pra começar as sessões.”

Início do tratamento
Encaminhada ao oncologista, Gislaine deu início ao tratamento. Com ele, veio também um turbilhão de questionamentos e incertezas. “Eu perguntava pra minha oncologista por que eu teria que fazer um tratamento tão agressivo, já que eu não sentia nada e o nódulo tinha sido retirado. Mas ela explicou que, como são células cancerígenas, nenhum exame detecta se há células em outra parte do corpo. Então, era necessário fazer quimioterapia e depois radioterapia.”

O câncer de Gislaine foi descoberto logo no início. Foto: Ana Machado

A força da rede de apoio
Durante o processo, Gislaine contou com uma rede de apoio sólida e presente, que se tornou fundamental para que ela encontrasse forças e coragem para seguir adiante. “O cabelo caiu, vieram os enjôos, todo aquele processo dolorido pra mim e pra minha família. Depois passei pra radioterapia em Campinas. Eu tive uma rede de apoio muito boa, minhas amigas, minha família.”

Ela carregava consigo não apenas a própria força, mas também a responsabilidade de cuidar da bebê recém-nascida e do filho de quatro anos, encontrando, entre os desafios do tratamento e da maternidade, a determinação para seguir em frente. “Você não tem como prever. A gente busca a cura, tem fé, se apega naquilo em que acredita, mas não tem a resposta. Você precisa passar pelo caminho, por aquela corda bamba que ora pende pra um lado, ora pro outro. Mas, graças a Deus, o meu tratamento deu muito certo.”

A importância do diagnóstico precoce
O câncer de Gislaine foi descoberto logo no início, o que reforça a importância de as mulheres se conhecerem, realizarem o autoexame regularmente e ficarem atentas a qualquer sinal do corpo. “Coisa que não aconteceu com a minha mãe. Enquanto eu estava grávida, ela também tinha um nódulo e reclamava, mas nunca foi atrás, sempre adiando. Eu acho que ela tinha medo do diagnóstico. Quando descobri o meu câncer, falei pra ela que a doença pode ter carga genética e que ela precisava investigar. Quando ela foi procurar, o câncer já estava avançado e com metástase. Ela fez todo o tratamento, mas, infelizmente, em 2013, minha mãe faleceu.”

Quando descobriu a necessidade do tratamento, Gislaine já havia parado de amamentar, pois se preparava para voltar ao trabalho. Ela lembra que esse período foi especialmente desafiador. “Na questão da saúde mental, realmente fiquei muito entristecida. Foi um período de revolta, porque você pensa: ‘Poxa vida, se Deus permitiu que a gente tivesse filhos pra criá-los, por que agora eu tenho esse diagnóstico?’. Senti muita tristeza, momentos de depressão. Mas é o que eu falo, a gente não pode parar. Tem que dar passos devagar, um dia de cada vez. Foi um período bem difícil.”

Uma mensagem para outras mulheres
A experiência de Gislaine se transformou em uma mensagem de inspiração para outras mulheres. “Elas precisam reconhecer que não é um período fácil. Pode chorar, pode se revoltar, mas chega uma hora em que você tem que erguer a cabeça e seguir em frente. É o enfrentamento. A gente precisa continuar, pelas pessoas ao redor, pelo trabalho, pela fé. Vai existir um momento de desespero? Vai. Mas é preciso seguir.”

Atenção ao histórico familiar
Se houver histórico familiar de câncer de mama, é importante procurar um médico para acompanhamento e prevenção. “Quem tem histórico na família, principalmente parentes de primeiro grau que tiveram câncer de mama, deve procurar um mastologista para ver o tipo de acompanhamento necessário. Esse segmento é feito com exames específicos. Muitas mulheres ainda enfrentam preconceitos ou tabus em relação a examinar as mamas, até por motivos religiosos, mas isso deve ser deixado de lado. A saúde deve vir em primeiro lugar. A porta de entrada é o ginecologista ou o médico da família, nas UBSs, e o ideal é realizar a consulta de rotina anualmente, com os exames indicados para cada faixa etária”, explica o mastologista Dr. Gildo Gardinalli Filho, da Unimed.

Nesse processo, a rede de apoio é essencial para oferecer fortalecimento e incentivo. “A rede de apoio precisa estar ao lado da pessoa, pra aquilo que ela realmente necessita. Não adianta comparar situações ou dar exemplos ruins. É estar junto, acompanhando, incentivando, ajudando a caminhar. Essa visão positiva de que vai dar certo, de que a vida continua, é o que faz diferença. Você tem pessoas ao seu redor pra cuidar, e isso te ajuda muito.”

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