segunda-feira, 25 novembro 2024

Mais empresas investem na mente

O número de empresas que oferecem programas para cuidar da saúde mental de seus funcionários tem crescido no Brasil.  

Segundo pesquisa de benefícios corporativos realizada pela consultoria Mercer Marsh Benefícios em 2019, 46% das companhias participantes têm alguma iniciativa focada no bem-estar emocional dos empregados.  

É o maior índice dos últimos anos -em 2017, eram 41% e, em 2015, 34%. Algumas das ações mais ofertadas pelas corporações são massagens (53%), programas de assistência ao empregado (49%), salas de descompressão (28%), meditação (17%) e atendimento psicológico no ambiente de trabalho (16%). Participaram da sondagem mais recente 611 empresas, que empregam, ao todo, 1,5 milhão de pessoas.  

Para Antonietta Medeiros, superintendente de saúde da Mercer Marsh, o aumento acompanha o crescimento dos casos de doenças relacionadas a estresse e síndrome de burnout (esgotamento extremo).  

Apesar da alta nas iniciativas, Antonietta faz uma ressalva: “Na pesquisa, pudemos ver que as ações voltadas para o indivíduo são a maioria -e, de fato, são importantes, mas são reativas, não preventivas. Ao criar um ambiente mais saudável, previne-se o adoecimento”, afirma.  

As doenças psiquiátricas são a terceira maior causa de afastamento de trabalhadores (em primeiro lugar estão as lesões laborais em geral e, em segundo, doenças em ossos e músculos). Os dados são da Secretaria da Previdência, divulgados em 2017.  

Um exemplo de benefício voltado à prevenção é o apoio pass, oferecido aos funcionários da Sodexo Brasil há quatro anos. Trata-se de uma linha telefônica para a qual empregados e familiares diretos podem ligar para obter aconselhamento psicológico, financeiro e jurídico.  

“Ter um canal em que se pode buscar apoio quando não se sabe a quem recorrer tem dado muito certo”, avalia Vana Fiorini, que é gerente de RH da empresa.  

Segundo ela, o maior objetivo da iniciativa é ajudar as pessoas a resolver seus problemas antes que eles se tornem transtornos.  

A companhia terceiriza o atendimento para manter a confidencialidade das demandas. De acordo com Vana, o aconselhamento também aumenta a produtividade dos empregados. “Um funcionário preocupado acaba trabalhando menos”, afirma.  

Dorit Verea, diretora da clínica Prisma, que há 18 anos presta consultoria em saúde mental para empresas, acredita que é importante capacitar gestores para apoiar os funcionários e identificar sinais de alerta.  

“Às vezes, o chefe se torna chefe por sua capacidade técnica, mas não sabe como lidar com as pessoas, como criar um ambiente saudável, como abordar o seu funcionário de forma ética”, diz.  

Para ela, é essencial que os líderes sejam instruídos a lidar com esse tipo de situação. “Pode ser muito invasivo abordar alguém sobre o tema, por isso a importância de um treinamento”, diz.  

Dorit conta que é muito comum que as companhias ofereçam palestras e cursos em datas específicas, como no Setembro Amarelo -mês voltado para campanhas de prevenção contra o suicídio.  

No entanto, ela ressalta a importância de que essas iniciativas sejam contínuas. “Fazer um trabalho pontual é ter a ilusão de que falar uma única vez é suficiente. A saúde mental tem que ser um projeto da empresa”, afirma.  

Segundo relatório da Opas (Organização Pan- -Americana da Saúde) de 2018, no Brasil, 36,5% dos casos de invalidez resultam de males psiquiátricos ou doenças neurológicas. É a maior taxa das Américas.  

O estudo conclui que o investimento público é insuficiente para que o sistema de saúde consiga atender de forma eficiente quem sofre desse tipo de transtorno, mesmo que o gasto esteja crescendo. 

 Na rede pública, a previsão orçamentária para a saúde mental foi de R$ 1,6 bilhão no ano passado, 1,2% do orçamento total do Ministério da Saúde (R$ 132,8 bilhões). Em 2018, foi R$ 1,5 bilhão e, em 2017, cerca de R$ 1,3 bilhão, segundo a pasta. 

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