
O movimento negro é um fenômeno que luta pelo fim do racismo, buscando igualdade social e de direitos para a população negra.
Santa Bárbara e Americana possuem organizações voltadas a essa causa, como a ACCONE (Associação Cultural da Comunidade Negra), a UNEGRO, o grupo Maracatu Estação Quilombo que dissemina a cultura afro-brasileira através do ritmo, cânticos e danças.
Além do Quilombo da Paz, criado por uma das principais figuras do movimento negro em nossa região, Benedito Samuel Barbosa, o Seu Dito Preto, o qual dedicou seus 78 anos de vida à preservação e divulgação da história da trajetória negra e indígena na região sendo considerado um dos líderes do movimento negro no interior.
Em entrevista à Rede TODODIA, Seu Dito conta um pouco da sua história e da sua dificuldade quando chegou em Santa Bárbara e Americana para se enturmar devido à falta de movimentos da população negra, e pelo fato de as cidades serem muito racistas. Neste aspecto, ele comenta de como o povo negro vivia escondido, onde ninguém os veria e que os únicos vistos eram os que estavam a caminho do trabalho nas colheitas de cana. Seu dito, também elucida como essa invisibilidade levou a criação dos primeiros movimentos negros da região.

“Tudo na vida da gente, a gente começa pela necessidade. E é a necessidade que faz a gente andar, movimentar, procurar, saber quem é parceiro, saber com quem a gente anda. E foi aí que, pela necessidade de ter uma visibilidade da qual a gente queria, da forma que a gente queria ser visto, foi onde surgiu a necessidade de a gente ter o movimento, criar o movimento.”
Seu Dito explica ainda, ao longo de sua entrevista, a necessidade e importância desses movimentos no Brasil, e especialmente no interior, uma ação de acolhimento e representatividade.
“E que, na verdade, a sociedade nos veja e nos respeite como cidadão, não pela cor, mas sim pelo caráter e pela necessidade de uma boa vivência.”
Identidade e memória

A Rede TODODIA também entrevistou Claudia Monteiro, representante da UNEGRO de Americana. Cláudia é historiadora e autora do livro Identidade e Memória, que conta a trajetória dos negros e negras na cidade de Americana.
O livro, lançado em junho de 2022 e realizado a partir da Lei Aldir Blanc de fomento a cultura, conta sobre a trajetória histórica da população negra no engenho e fazenda Salto Grande um dos marcos históricos da criação de Americana.
“É uma construção coletiva, não é uma construção singular, solitária, ela vem de um grupo. Eu percebi o aluno negro, a aluna negra, sem conhecer a sua trajetória histórica, sem conhecer a sua ancestralidade, o nosso passado”, ressaltou a professora de história.
A escritora contou que foi feito um levantamento bibliográfico extenso, utilizando muito o Centro de Memória da Unicamp. Além disso, também foram feitas entrevistas com antigos moradores de Americana.
Claudia ainda comenta sobre a importância das ações do poder público, que contribuem com o movimento, como a Lei Nacional 10.639 de 2003 que traz a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, assim como sua participação no COMPIR (Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial) criado pela Prefeitura de Americana.
“A conquista do COMPIR, […] é histórica. E a criação desse conselho é uma confissão que aqui existe um racismo, ou seja, você não cria um conselho para combater a desigualdade racial se você não percebe isso no nosso cotidiano. Ele é um avanço importante, a gente tem ele como marco na cidade, uma conquista que vem de longos anos.“
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