sábado, 20 abril 2024

‘Plano de ascensão é via profissional’

Para ter sucesso hoje, o trabalhador não pode mais esperar que a empresa trace a sua carreira. Ele precisa assumir as rédeas da vida profissional e decidir seus próximos passos antes que seja pego de surpresa pelas mudanças causadas pelos avanços tecnológicos. 

É o que afirma o britânico Michael B. Arthur, professor da Universidade Suffolk, em Boston (EUA). Ainda na década de 1990, ele criou o termo “carreira sem fronteiras”, para definir o fim dos tradicionais planos de ascensão dentro das organizações. 

“Se o empregador está mantendo você no mesmo lugar, invente seu próprio projeto”, diz o professor, que está em São Paulo para participar de eventos na FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e na FIA (Fundação Instituto de Administração). 

Em entrevista, Arthur fala sobre como o profissional deve se posicionar e buscar novos aprendizados em um mundo do trabalho cheio de incertezas.

“Ter um emprego é só o primeiro passo para permanecer empregado, mas é insuficiente.” 

Como a carreira mudou nos últimos anos? A antiga concepção de carreira remonta ao sistema feudal e ao fabril. A premissa era que as empresas deviam um emprego vitalício aos seus funcionários. 

Ao olhar para as taxas de mobilidade no emprego, passou-se a observar que o funcionário ficava na empresa de cinco a oito anos, em média. Assim, a previsão é que uma pessoa terá ao menos quatro ou cinco empregadores ao longo da vida. 

A única maneira de entender essa carreira é se afastar de uma única organização e ter uma visão mais ampla de como a vida profissional daquela pessoa evolui. 

Com isso, eu e meus colegas nas escolas de administração começamos a trabalhar com o conceito de carreira sem fronteiras. 

O que é uma carreira sem fronteiras? É uma perspectiva que assume a mobilidade ao invés da imobilidade. Começamos a introduzir ideias sobre, por exemplo, carreiras baseadas em projetos, como ocorre nas produções de cinema independente, nas quais as pessoas dos dois lados dão o seu melhor no projeto atual da mesma forma que são responsáveis por achar seus próximos projetos. 

O que podemos concluir disso é que a orientação para guiar a carreira de uma pessoa está dentro dela mesma. Só ela pode olhar em retrospectiva para entender onde esteve e onde está agora. E, portanto, está na melhor posição para procurar pela nova oportunidade de emprego. 

Como estar preparado para lidar com essa realidade?Usamos a abordagem chamada de carreira inteligente, que pode ser entendida, em linhas gerais, como aplicar sua própria inteligência à situação. Falamos sobre conhecer por que, como e com quem se trabalha. O que historicamente tem sido mais negligenciado é o olhar para o “com quem”. 

Por quê? Porque é nesse espaço que você vai procurar por um sistema de suporte, por pessoas que se preocupam com a sua carreira. É nessa área que você deveria procurar por mentores, por grupos ocupacionais. 

É importante ter um sistema de apoio pessoal realmente forte, composto por diferentes tipos de suporte -familiar, profissional e emocional. Ter um lugar no qual sua reputação esteja abrigada e as pessoas possam apoiar a qualidade do seu trabalho. Tudo isso se torna absolutamente essencial quando você pensa sobre esse tipo de carreira. 

Também é vital no sentido de ter entusiasmo para continuar acreditando nas suas habilidades e ajudar a desenvolver novos talentos, algo que simplesmente estávamos acostumados a deixar para o empregador escolher se faria ou não, dependendo da importância que ele pensava que você tinha. 
MICHAEL B. ARTHUR, 74 

Britânico, é professor emérito da Universidade Suffolk, em Boston (EUA), e professor visitante da Cranfield School of Management, no Reino Unido. Entre os livros dos quais é coautor estão “The Boundaryless Career” (1996) e “An Intelligent Career: Taking Ownership of your Work and Your Life” (2017) 

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