O monte Kilimanjaro é o ponto mais alto da África. Fica no norte da Tanzânia, perto da fronteira com o Quênia, na África Oriental. Trata-se de um vulcão adormecido, com quase 6 mil metros de altitude. Chegar ao cume do Kilimanjaro é o sonho de muitos aventureiros ao redor do mundo, e foi exatamente o que duas moradoras de Americana conseguiram.
A psicóloga Bianca Berselli, de 41 anos, e a arquiteta Michela Fraschetti, de 45, integraram um grupo de 23 brasileiros que enfrentaram a montanha no início deste mês.
Elas embarcaram rumo à Tanzânia no dia 27 de junho. Depois de quase 24 horas de voo, chegaram à África. Antes da subida, ainda visitaram tribos locais e tiveram um contato direto com a cultura do país. A caminhada rumo ao topo começou no dia 1º de julho e durou até o 9, contando também a descida.
Início completamente inesperado
Subir o Kilimanjaro nunca esteve nos planos de Bianca e Michela. Tudo começou de forma inesperada. Uma amiga da psicóloga contou que vinha pensando muito nela e perguntou se ela desejava algo. Aproveitando a viagem da amiga para El Chaltén, na Argentina, Bianca expressou o desejo de viver uma experiência semelhante, com o mesmo propósito: fazer um trekking.
Três dias depois, o pai de Bianca, que tem 68 anos, é montanhista e já esteve até no Monte Everest, convidou a filha para participar do que seria a despedida dele das montanhas. O plano era subir o Kilimanjaro juntos. Mas 20 dias antes da viagem, uma lesão o impossibilitou de segui. Foi então que Bianca decidiu convidar Michela para a jornada.
“A gente nem era amiga, só que eu lembrava do brilho no olhar dela quando eu contei que eu ia fazer isso, e na montanha a gente descobriu que existe uma coisa muito mágica, é a montanha que te escolhe, a montanha que te chama”, disse Bianca. Com esse pensamento, o convite foi feito e prontamente aceito por Michela.

Superação a cada dia
A média diária de caminhada do grupo em que integraram era de seis horas por dia, e tudo começava logo cedo. 7h30 iniciavam e iam parar a trilha por volta das 14h30. Cada um no seu ritmo, mas todos juntos, um ajudando e motivando o outro. Quando chegavam ao acampamento, o acampamento já estava montado. Por ali todos se alimentavam, tinham um tempo de interação no fim da tarde e por volta das 20h30 já estavam dormindo.
“Existia uma questão que a gente foi descobrindo lá, que é a aclimatação. Então quanto mais alto você sobe, menos oxigênio você tem e você vai sentindo a pressão atmosférica muda, teu organismo todo vai mudando”, explicou Bianca.
Segundo elas, os próprios guias a orientaram que o pensamento deveria ser um dia de cada vez. Era sempre “matar um leão por dia” e seguir o trajeto. “Era difícil respirar, escovar os dentes, qualquer movimento que você faz é um gasto de energia, que cada um realmente precisa entender o seu tempo. Todo mundo foi capaz de ajudar todo mundo ali”, revelou Michela.
Mesmo depois de tantos desafios, cada uma guarda na memória o momento mais difícil da jornada. Bianca, que tem uma lesão no joelho, sofreu bastante durante a descida. O esforço foi tão grande que ela precisou ser carregada no fim do trajeto. Já Michela relembra o fim da subida como o ponto de mais dificuldade, ela precisou de uma motivação extra dos guias e lembrar dos dois filhos para conseguir terminar o trajeto.

Ensinamento para a vida
O esforço intenso, além de físico e mental, envolvia também a saudade da família. Cada uma das duas tem dois filhos e passou dias sem acesso à internet. Em alguns momentos, conseguiam fazer publicações nas redes sociais e enviar notícias aos familiares.
Bianca e Michela viveram algo único na vida. Chegar ao próprio limite, compartilhar o mesmo objetivo, inclusive com pessoas que nunca tinham visto antes, transformou completamente a experiência. Os aprendizados que tiveram durante este tempo não ficaram na montanha. Foi uma mudança profunda, de vida e visão de mundo.
“A gente consegue viver sem quase nada, mas sem pessoas a gente não vive. Lá a gente vivia com nada, era o básico do básico, nem água a gente tinha para tomar banho, era nada, mas eu não seria capaz de fazer o que eu fiz sem as pessoas. Isso mudou muito em mim”, disse Bianca, que conta com o apoio da amiga, “De fato, a gente precisa das pessoas. A gente não precisa das outras coisas, a gente precisa das pessoas”.





