quarta-feira, 16 abril 2025

Dia de conquistar a glória eterna

Diferente, singular, histórica. São todos adjetivos que cabem como definição para a Copa Libertadores de 2020, que terá o seu encerramento neste sábado (30), às 17h, no Maracanã.
Palmeiras e Santos decidirão o título de campeão da América após terem disputado uma competição em circunstâncias muito particulares.
A pandemia de Covid-19, que paralisou momentaneamente o torneio e tirou torcedores dos estádios, será o fio condutor indissociável na hora de contar, para as gerações futuras, a história desta edição do torneio continental.
Não que as últimas finais de Libertadores tenham sido marcadas pela calmaria. Em 2018, a decisão foi transferida para Madri depois que torcedores do River Plate apedrejaram o ônibus com a delegação do rival Boca Juniors. A maior competição sul-americana, pela primeira vez, foi disputada na Europa, e o River Plate celebrou a conquista.
A final prévia ao Maracanã também não passou incólume. Marcada inicialmente para Santiago, foi retirada do Chile em razão da convulsão social e política vivida no país no fim de 2019. Da capital chilena, a partida foi para a capital peruana, Lima, e marcou a primeira Libertadores com final única, consagrando o Flamengo como bicampeão.
Desta vez, porém, praticamente toda a trajetória da Libertadores foi escrita sob condições extraordinárias. Se “raça” é um dos termos frequentemente associados ao campeonato, a partir de março de 2020 a palavra que dominou o protagonismo, e não só no futebol, foi “pandemia”.
As restrições sanitárias privaram palmeirenses e santistas de acompanhar de perto duas campanhas memoráveis, e afetadas pelo coronavírus.
Os dois técnicos finalistas, Cuca e Abel Ferreira, foram acometidos pela doença e perderam partidas da competição pela necessidade de cuidados médicos e isolamento. O santista, inclusive, chegou a ficar internado em uma unidade semi-intensiva e teve lesões no pulmão e uma hepatite.
Na semifinal contra o Boca Juniors, o goleiro John, do Santos, terminou o jogo de ida sem ser vazado e ajudou a equipe a levar um bom resultado para o duelo na Vila. Mas antes de voltar ao Brasil, descobriu que estava com Covid-19. Para o segundo confronto, o arqueiro deu lugar a João Paulo, infectado em outro momento da temporada.
Capitão do Santos, Alison também contraiu o vírus há duas semanas e ficou afastado, mas se diz pronto para a decisão contra o Palmeiras.
“A gente cumpriu todo o protocolo corretamente com o apoio do clube. Fiz os exames que tinham que ser feitos e estou me sentindo bem. Venho treinando com o grupo e estou 100%”, afirmou o volante nesta sexta (29), em entrevista coletiva no Maracanã.
Com essa confirmação, nenhuma das equipes possui desfalques entre os prováveis titulares.
Os técnicos esconderam a escalação para a final.
EMOÇÕES
Com a distância que a pandemia criou entre o que aconteceu no campo e seus torcedores, se colocar na pele de um alviverde permite imaginar como teria sido viajar a Avellaneda e ver o Palmeiras golear o River Plate por 3 a 0. Pensar no drama do jogo da volta, em São Paulo, no qual os argentinos estiveram bem próximos de uma remontada épica, mas pararam em Weverton e nos acertos do VAR.
Para os alvinegros, teria sido especial acompanhar de perto a vitória contundente da equipe sobre o Grêmio, nas quartas de final, quando o Santos abriu o placar com apenas 11 segundos de jogo e encaminhou a classificação.
Uma euforia que precisou ser extravasada de casa, assim como na goleada por 3 a 0 sobre o Boca, algoz da última final do clube, em 2003. Ambos triunfos numa Vila Belmiro com arquibancadas vazias.
Anos de espera para voltar a uma decisão, além da possibilidade de disputar um Mundial, e a enorme maioria desses torcedores não poderá estar no Maracanã para ver o tetracampeonato santista (após 1962, 1963 e 2011) ou o bi palmeirense (após 1999).
“É uma oportunidade única, um prazer, uma emoção estar aqui e disputar um título. O Maracanã significa isso, o templo do futebol. Mas o templo não estará cheio”, disse um orgulhoso Abel Ferreira, em entrevista coletiva nesta sexta, no próprio estádio.
Para minimizar a frieza do espetáculo sem torcida, a Conmebol autorizou que, além de convidados da entidade, os clubes presenteassem alguns de seus sócios e funcionários com credenciais para acompanhar o jogo no estádio.
Por isso a emoção dos 11 sócios-torcedores do Palmeiras quando o técnico Abel Ferreira ligou para avisá-los de que eles estariam no Rio este sábado, pertinho da equipe.
A mesma emoção – e também incredulidade – de alguns dos 25 sócios-torcedores do Santos que receberam a chamada do zagueiro Luan Peres, convidando-os para estarem presentes no Maracanã.
Em algumas décadas, quando a memória começar a trair as lembranças dos grandes times e craques, a Libertadores de 2020 será uma recordação ímpar e que certamente irá se destacar perante as outras.
Talvez não com os detalhes de quem fez os gols, ou de quais foram os adversários derrubados na caminhada até a conquista, mas por essa condição particular que permeou toda a disputa e pela privação de não poder estar junto do seu time, torcendo.
O título será eterno, porque mesmo que ambos já tenham conquistado a taça antes, a da edição de 2020 será única.
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