segunda-feira, 25 novembro 2024

‘É um absurdo valer tão pouco’

Estudioso do futebol brasileiro, o consultor esportivo Amir Somoggi é um crítico do atual modelo administrativo do futebol brasileiro. Sócio da Sports Value Marketing Esportivo, este administrador de empresas alerta cotidianamente sobre os perigos que assombram o futebol brasileiro e os seus clubes.

“Esses garotos e jovens de 8 a 24 anos são a prova que hoje os times europeus têm cada vez mais torcida no Brasil. A geração do videogame e redes sociais só pensa nos times europeus e vivenciam suas marcas em diferentes plataformas”, escreveu em artigo em seu blog pessoal.

“Esse novo cenário mostra que a cada dia estamos mais parecidos com a Malásia, Tailândia, Cingapura, Indonésia e não mais como Brasil. Esses mercados são muito explorados pelos times, pois tem uma liga fraca. Infelizmente o Brasil começa a mostrar não ser tão diferente”, explicou.

Em entrevista ao TODODIA, o especialista em marketing esportivo analisa também obstáculos a serem enfrentados por Ponte Preta, Guarani, União Barbarense e Rio Branco.

TODODIA – Nos últimos anos verificamos uma predileção de clubes médios e pequenos em terceirizar o seu departamento de futebol. Londrina e Figueirense fizeram e agora o Guarani nos próximos dias vai escolher um novo gestor para o futebol. Realmente esse é o único caminho para clubes com esse perfil?

O caminho da terceirização é o mais rápido no sentido de capitalizar o time porque muitas vezes o clube não tem dinheiro e vem um terceiro e põe novos recursos. Só que quando vai embora deixa todo o passivo para o clube. Então, muitas vezes a parceria começa bem e termina mal. E o maior defeito da terceirização é a ausência de profissionalização do próprio clube, porque fica sempre na dependência desse terceiro e nunca se profissionaliza.

TODODIA – Na Ponte Preta, Sérgio Carnielli diretamente ou indiretamente comanda o clube há 21 anos. Há uma guerra interna entre situação e oposição. Isso não atrapalha a profissionalização do clube tanto na parte administrativa como esportiva? Não é um modelo desgastado?

Realmente isto é um absurdo. Ele é um credor elevado, pois têm dívidas enormes para receber e não consegue receber porque o clube não consegue gerar receita. O clube fica refém desta situação, não evolui, não cresce e não fica independente deste modelo, que na minha opinião é um modelo bem desgastado e arcaico.

TODODIA – Ponte Preta e Guarani estão em uma cidade de 1,2 milhão de habitantes. Os dois estão na Série A do Paulista e Série B do Brasileiro. Existiria possibilidade de exploração comercial do dérbi?

É um absurdo valer tão pouco. O jogo tem um enorme potencial. Cidades europeias com 400 mil ou 500 mil habitantes e muito menores (que Campinas) mostram resultados melhores. Parece-me que é um problema muito mais de marketing das marcas dos clubes mal trabalhadas e do trabalho mal feito das diretorias do que simplesmente uma questão de mercado.

TODODIA – União Barbarense e Rio Branco vão disputar no ano que vem a quarta divisão do Campeonato Paulista em 2019. Desde o primeiro semestre não atuam no futebol profissional. Neste atual modelo do futebol brasileiro, o que esses clubes devem fazer para se recuperarem e terem novamente protagonismo?

Aí é um problema de calendário do futebol brasileiro, já que são equipes que dependem de uma competição sem o menor apelo, que é o Campeonato Paulista, ficam quase o ano inteiro sem atividade. Isso quando não fecham as portas ou viram clubes de aluguel. É péssimo. O caminho passa pela mudança de calendário e com os clubes jogando o ano inteiro, seja Série A, B, C, D, E ou F. Não importa. A saída é cada time ter o seu próprio campeonato brasileiro.

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