O comerciante Américo Bissoto, o Totó, tem duas prioridades exercidas em seus 70 anos de vida: a família e a paixão pela Ponte Preta. O que ele não esperava é que durante a última edição da Série B tal devoção fosse colocada à prova e levada as últimas consequências.
A saga começa dias antes do confronto entre Ponte Preta e Fortaleza, na Arena Castelão, em 26 de outubro, que terminou empatado por 1 a 1. As passagens estavam compradas rumo a Fortaleza, mas existia um obstáculo: os ingressos inexistiam. Por uma falha da organização do Fortaleza e da CBF, não houve reserva para o setor visitante.
“Liguei para o assessor de imprensa do Fortaleza e eles me disseram que não tinha ingresso. Aí conseguimos com o pessoal da logística da Ponte Preta. Tivemos que chegar na cidade e percorrer 25 quilômetros para pegar os bilhetes”, contou Totó ao TODODIA.
A viagem foi feita com o filho Luis Américo e os amigos Rafael e Carlinhos, o Corneteiro. No dia jogo, quando chegarem ao estádio, a surpresa: o setor estava reservado para as torcidas organizadas do Fortaleza, já com festa organizada e com previsão de mosaico.
Em ambiente hostil e com risco de serem desmascarados, Totó e sua trupe escolheram adotar um comportamento reservado. “Todos no setor estavam com a camisa do Fortaleza. Só nós estávamos com roupas normais”, explicou Totó, temendo ser descoberto porque as torcidas do Fortaleza tem relação amistosa com as organizadas do rival Guarani.
Quando chegaram nos lugares reservados, o sentimento de contrariedade tomou conta dos intrusos, que descartaram os papéis colocados nos assentos, que seriam utilizados no mosaico. Ao serem inquiridos pelos torcedores do Fortaleza eles desconversaram dizendo que o papel não estava lá quando chegaram. Imediatamente passaram a curtir o jogo. Com um detalhe importante: sem pronunciar uma palavra sequer como forma de “prevenção”.
“Nós procurávamos conversar apenas com gesto afirmativo e negativo com a cabeça. Se começássemos a falar poderiam descobrir que o nosso sotaque era diferente”, explicou Totó.
E o que fazer diante do gol pontepretano de André Luis aos 18 minutos do segundo tempo? Nada como a criatividade para forjar uma saída.
“Meu amigo, o Carlinhos Corneteiro gritou um palavrão como se estivesse inconformado com a falha do goleiro deles”, disse Totó.
Ao final dos 90 minutos, a retirada foi rápida e estratégica. “Aí compramos as camisas , bandeira e o boné para passarmos no meio da torcida. Vai que nos confundissem com um torcedor do Ceará ou da própria Ponte Preta. Futebol é gostoso por causa disso”, arrematou Totó.
DESTINO
Totó afirma que não havia saída: seu destino era ser pontepretano. Tanto que ele nasceu no dia 13 de setembro de 1948 às 06h30 na Maternidade de Campinas. A partida inaugural do Majestoso foi no dia 12 de setembro, contra o XV de Piracicaba, quando a Macaca foi derrotada por 3 a 0.
Na fase adulta, o quase “irmão gêmeo” da Ponte Preta passou a andar pelo Brasil atrás do time do coração. Mesmo quando ocorreu o veto ao torcedor pontepretano como visitante devido aos problemas ocorridos na penúltima rodada do Brasileirão de 2017, quando o Vitória venceu de virada por 3 a 2 e rebaixou a Alvinegra.
“Fui a Manaus, São Luiz e Recife. O que importa é que ela (Macaca) nunca jogará sozinha”, completou Totó.