
Com mais de 100 anos de história, o dérbi entre Guarani e Ponte Preta é considerado uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro. O confronto, que mobiliza gerações de torcedores e agita a cidade de Campinas, é marcado por equilíbrio em campo, tradição e momentos inesquecíveis.
Duelo centenário com raízes históricas
Fundada em 1900, a Associação Atlética Ponte Preta é o clube mais antigo da cidade. Seu nome tem origem em uma ponte escurecida por fuligem nas margens da ferrovia entre Campinas e Jundiaí. Já o Guarani Futebol Clube foi criado em 1911, batizado em homenagem à ópera O Guarani, do maestro campineiro Carlos Gomes, por iniciativa de jovens descendentes de italianos.
O primeiro encontro entre os rivais ocorreu em 24 de março de 1912, mas o resultado permanece um mistério — não há registros oficiais do placar. Um detalhe que contribui para o charme e a aura lendária do clássico campineiro.
Números equilibrados e domínio alternado
Embora o Guarani tenha uma leve vantagem no retrospecto geral, a Ponte Preta vive um melhor momento nos últimos confrontos. Os números, porém, seguem apertados, e os jogos costumam ser decididos nos detalhes.
O jornalista esportivo Edu Pinheiro, da Rádio Bandeirantes de Campinas, destaca o equilíbrio da disputa. “Esta é a primeira vez que os rivais se enfrentam na terceira divisão nacional. O Guarani tem 71 vitórias, a Ponte Preta venceu 68, e são 69 empates. O Bugre marcou 274 gols, e a Ponte, 272”, lembrou Pinheiro.
Neste sábado (3), às 17h, no estádio Moisés Lucarelli, mais um capítulo será escrito, válido pela 15ª rodada da Série C do Campeonato Brasileiro. Os clubes vivem momentos distintos: a Ponte pode garantir a classificação, enquanto o Guarani busca reagir na competição.
O técnico Alberto Valentim, da Ponte Preta, reforça a importância do jogo. “Todo jogador e treinador sonha em disputar uma partida desse nível. É um campeonato à parte. Precisamos estar atentos e focados para buscar o resultado positivo, que pode nos garantir a classificação”, ressaltou Valentim.
Clássico de histórias marcantes — e goleadas raras
Apesar do equilíbrio histórico, o dérbi teve exceções. Em 1960, o Guarani goleou a Ponte por 6 a 0 no Brinco de Ouro — até hoje, a maior vitória da história do clássico. A Macaca também deixou sua marca, vencendo por 4 a 0 em três ocasiões nos anos 1940 e 1950.
Além dos gols, o confronto tem episódios polêmicos. Em 2011, por exemplo, a Ponte contratou um locutor que provocou o rival pelo sistema de som do estádio.
Público recorde e craques em campo
O auge do dérbi ocorreu no fim dos anos 1970. O palco foi o Pacaembu, em São Paulo, com quase 40 mil torcedores. O Guarani, então campeão brasileiro, venceu por 2 a 0 a Ponte, vice estadual. Em campo, estrelas como Careca e Zenon, pelo Bugre, e Dicá, pela Macaca.
Outros jogos também entraram para a história, como a conquista pontepretana do primeiro turno do Paulistão de 1981 e o chamado “dérbi do século”, vencido pelo Guarani em 2012.
A alma do dérbi está nas arquibancadas
Mais do que um jogo, o dérbi é um símbolo de Campinas. É vivido intensamente por torcedores apaixonados, que carregam no peito as cores e a história de seus clubes.
O pontepretano Antonio Carlos Pinheiro Alves, o Batata, mora em Cedral, na região de São José do Rio Preto, e não esconde o amor pela Macaca. “Temos uma faixa da Serponte [torcida organizada] que levamos a todos os jogos por aqui. O amor pela Ponte é incondicional”, afirmou Alves.
Pelo lado bugrino, o músico Dú Stefanelli lamenta os maus resultados do Guarani nos últimos anos, mas reforça a paixão pelo alviverde: “Sou Guarani na alegria das vitórias e na tristeza das derrotas. Ainda acredito na classificação. E nada melhor do que vencer o maior rival para subir na tabela”, disse Stefanelli.
Neste sábado, Campinas vai parar novamente. Quando a bola rolar no Majestoso, emoção, rivalidade e tradição estarão em campo. O dérbi 210 já está garantido na galeria dos grandes momentos do futebol nacional.