domingo, 6 julho 2025
CLÁSSICO ETERNIZADO

Rivalidade centenária entra para os anais da história: dérbi entre Ponte e Guarani se torna patrimônio de Campinas

O estudo para o tombamento utilizou a torcida como categoria social central, considerando sua atuação como elemento vivo da prática cultural que se mantém ativa e revigorada
Por
Vladimir Catarino

Se existem duas palavras que podem ser facilmente relacionadas ao futebol, elas são paixão e fanatismo. Paixão pelo time do coração, capaz de nos fazer chorar e sorrir, às vezes até mesmo na mesma partida, e fanatismo, a ponto de nos isolarmos em caso de derrota, xingarmos o atacante que perdeu aquele pênalti e prometermos nunca mais voltar ao estádio. E voltamos, muitas outras vezes.

E quando a paixão pelo futebol mexe com uma cidade inteira? Dividida entre o alviverde Guarani e a alvinegra Ponte Preta, a capital metropolitana Campinas pulsa de maneira única quando esse duelo entra em campo. Pais e filhos, marido e mulher, chefe e funcionário, irmãos, amigos, desafetos… Ninguém fica indiferente quando o dérbi começa, muito menos depois que ele termina. O clássico é um verdadeiro patrimônio e, sendo assim, foi oficializado como tal.

O tradicional dérbi entre Guarani e Ponte Preta foi reconhecido como patrimônio imaterial de Campinas. A aprovação ocorreu durante reunião do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). O encontro contou com a participação de conselheiros, representantes da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, da sociedade civil, entidades e membros dos dois clubes de futebol. A proposta de reconhecimento foi embasada em um estudo conduzido por Marcela Bonetti, especialista cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campinas.

Ao longo da história, Guarani e Ponte Preta mobilizam os campineiros em uma paixão que vai além do futebol. Fotos: Raphael Silvestre e Arquivo / AAPP

“Os dois clubes, de forma individual, contam com seus próprios acervos históricos, que são muito ricos em conteúdo. O Condepacc vai aproveitar essa história e levar adiante cada capítulo desse clássico, que extrapola a questão esportiva. As novas gerações saberão o peso de Ponte Preta e Guarani mesmo que, porventura, esse jogo não aconteça em algum momento”, relatou Alexandra Caprioli, secretária municipal de Cultura e Turismo de Campinas.

A pesquisa envolveu entrevistas, coleta de depoimentos, levantamentos documentais e bibliográficos, além de visitas técnicas aos clubes. O estudo utilizou a torcida como categoria social central, considerando sua atuação como elemento vivo da prática cultural que se mantém ativa e revigorada ao longo das décadas.

O primeiro dérbi aconteceu em 24 de março de 1912, com resultado desconhecido. Já o primeiro confronto com cobrança de ingresso foi registrado em 24 de outubro de 1915, no Hipódromo de Campinas, com vitória do Guarani por 1 a 0. No segundo jogo, no mesmo local, a Ponte Preta venceu por 2 a 1. Desde então, os encontros entre os dois clubes se tornaram parte fundamental da cultura campineira.

Segundo Alexandra, a rivalidade campineira chega aos limites extremos e reflete em todas os aspectos culturais do município. “Já nas discussões do conselho a gente percebeu essa polaridade, com todos os membros se manifestando para um clube ou outro. Como envolve paixão e fanatismo, tudo precisa ser tratado sempre com muito cuidado e parcialidade”, enfatizou a secretária.

Mais do que um jogo, o dérbi é um marcador da identidade da cidade. Ele atravessa gerações e compõe a memória coletiva dos moradores: famílias inteiras guardam lembranças dos clássicos, com histórias que vão além do futebol — festas, encontros, brigas, reconciliações e tradições familiares.

A oralidade é um dos pilares dessa herança: torcedores mais velhos contam suas experiências aos mais jovens, criando uma linha afetiva contínua. O patrimônio imaterial é composto por práticas, saberes, expressões e celebrações que dão identidade a um povo e fortalecem o sentimento de pertencimento de uma comunidade. Em Campinas, esse tipo de patrimônio é protegido desde 2013 por meio do Programa Municipal de Patrimônio Imaterial, instituído pela Lei 14.701.

O próximo capítulo deste patrimônio, Ponte Preta e Guarani, já tem data marcada. Será no sábado, dia 2 de agosto, pela 15ª rodada da Série C do Campeonato Brasileiro.

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