Morreu ontem, em Campinas, a comerciante Nice Romualda Vieira, 53 anos, que teve o corpo queimado na quarta-feira, de forma covarde, por seu ex-companheiro.
O autônomo Moacir Zanella, 51 anos, invadiu a loja de roupas e bijouterias onde a vítima trabalhava, no Jardim Vista Alegre, jogou gasolina na vítima e em si mesmo e, em seguida, ateou fogo. Ela foi socorrida, mas faleceu ontem, deixando dois filhos adultos.
O criminoso teve 82% do corpo queimado e permanecia internado até o fechamento desta edição.
O TODODIA apurou que a vítima já vinha sendo ameaçada pelo assassino desde que negou reatar o relacionamento entre eles, que estavam separados há cerca de um mês.
DENÚNCIA
A comerciante chegou inclusive a denunciar o caso à Polícia Civil, mas não requereu direito a medida protetiva, e acabou tornando-se mais um número na triste estatística de feminicídio – crime de ódio contra mulheres.
No último dia 10, Moacir Zanella chegou a ir até a casa da comerciante, no Jardim Novo Campos Elíseos, onde mais uma vez insistia a reatar a união estável de três anos com a ex-mulher.
Como a vítima negou, Zanella passou a fazer ameaças que levaram Nice a registrar queixa contra ele em um DP (Distrito Policial) de Campinas.
Conforme é praxe em casos de violência doméstica, a vítima tem a opção de pedir imediatamente a Medida Protetiva Judicial, ou tomar a decisão em até seis meses.
Segundo o registro, Nice naquele momento não requisitou a proteção. A família acredita que faltou orientação especializada para que a medida fosse requerida.
Mãe de dois filhos adultos, a comerciante tinha sua pequena loja instalada no prédio de propriedade do ex-companheiro.
Nice, chegou a fazer uma denúncia na Polícia contra as ameaças, mas não pediu medida protetiva
FEMINICÍDIO
Na quarta-feira à tarde, Zanella invadiu o local portando um galão de gasolina. Ele voltou a insistir em reatar o relacionamento, discutiu em altos brados com a mulher – ao ponto de uma funcionária, que estava almoçando nas imediações, voltar até a loja para ver o que ocorria.
Zanella, que já tinha entrado e baixado a porta da loja, expulsou a funcionária do local, voltou a baixar a porta e antes que alguém voltasse, jogou gasolina e ateou fogo na mulher e na loja.
Com ferimentos gravíssimos, a vítima ainda foi socorrida pelo helicóptero Águia da PM (Polícia Militar), levada ao Hospital de Clínicas da Unicamp, onde resistiu por algumas horas.
Com 80% do corpo queimado, Zanella foi encaminhado em estado grave para o Hospital da PUC (Pontifícia Universidade Católica), onde ficou até a madrugada de ontem, antes de ser removido para um hospital especializado em queimados.
O estado de saúde dele não foi informado.
Não houve confirmação se, após jogar o combustível na mulher e atear fogo, o assassino teria sofrido as queimaduras acidentalmente ou se teria atentado contra a própria vida.
No entanto, vídeos que circularam pelas redes sociais mostram o criminoso dizendo a algumas pessoas para “deixar ela queimar”, o que indica uma ação premeditada.
MANIFESTAÇÃO
Nice foi enterrada na tarde de ontem, no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no bairro Amarais, no mesmo dia em que o Governo do Estado inaugurou o atendimento 24h na 2ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Campinas.
Durante a inauguração, ativistas promoveram um protesto contra o feminicídio.
“Onde vamos parar se ninguém se importar com um momento em que 13 mulheres são assassinadas por dia por homens que se acham donos delas?”, indagou a vereadora Marcela Moreira (PSOL), que participou da manifestação.