sábado, 20 abril 2024

A missão ‘quase’ impossível do Banco Central

Por Luis Otavio Leal

O desafio do Banco Central do Brasil (BCB) vai além dos problemas derivados da inflação externa, tendo uma relação muito forte com a estrutura da economia brasileira, preparada durante décadas para se resguardar do aumento dos preços e, portanto, estruturada para perenizar choques temporários. Assim, vamos discutir que condições possibilitariam ao BCB manter sua promessa de parar de subir os juros.

Na franquia cinematográfica “Missão Impossível”, a um grupo especial do serviço secreto americano, liderado por Ethan Hunt, são dadas missões consideradas impossíveis que, não sem muito tiro, bomba e correria, no fim se mostraram factíveis de serem concluídas. Pensando na missão do nosso BCB, ela pode não ser considerada impossível, a depender do horizonte que se considere, mas certamente não será fácil. Colocar a meta em 2022 é sim uma “missão impossível”, mas fazê-la convergir em 2023 não seria tão “impossível” assim, desde que se estivesse disposto a incorrer nos custos de fazê-lo. Nos filmes, Ethan Hunt e sua equipe estão sempre prontos a ir ao limite, o que invariavelmente rende boas cenas de ação e grandes bilheterias, mas será que, se o BCB fizer o mesmo, a audiência vai aplaudir o resultado?

Para começar a discussão, vamos aos fatos. Para uma meta de inflação de 3,25% em 2023, as expectativas para o IPCA no mesmo período, indicaram um número ao redor de 4,00%, e a inflação corrente está em 11,29% no acumulado em 12 meses. Usando uma regra de Taylor simples para a economia brasileira, a conclusão é que os juros deveriam chegar a 15,50% a.a. para que houvesse convergência da inflação para a meta em 2023. Já partindo dos modelos de pequeno porte do BCB, estes teriam que ser elevados até 14,75% a.a.

Outra questão importante a salientar é que a política monetária atua com defasagens, por isso, apesar de desejável, não nos parece ser uma condição sine qua non para a interrupção do processo de alta dos juros que a inflação acumulada em 12 meses esteja em queda. Entretanto, temos boas razões para acreditar que ela esteja quando chegarmos à reunião de junho (marcada para o dia 14), momento no qual o BCB terá que decidir se interrompe ou não o atual ciclo de aperto monetário.

A conclusão é que os principais impactos para a inflação de curto prazo já estão bem precificados e que poderemos ter surpresas positivas até a reunião do Copom de junho. Obviamente que, com uma guerra correndo solta na Europa e a incerteza dos impactos da nova rodada de lockdowns na China sobre as cadeias produtivas, tudo pode mudar de uma hora para outra e o BCB seja impelido a avançar mais no aperto monetário. Entretanto, acreditamos que com a perspectiva mais favorável para a inflação de curto prazo e com a perspectiva de, finalmente, o BC americano remar para o mesmo lado, os juros por aqui poderão ficar em 12,75% a.a. até o final de 2022. 

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