A missão 'quase' impossível do Banco Central
Por Luis Otavio Leal
Na franquia cinematográfica "Missão Impossível", a um grupo especial do serviço secreto americano, liderado por Ethan Hunt, são dadas missões consideradas impossíveis que, não sem muito tiro, bomba e correria, no fim se mostraram factíveis de serem concluídas. Pensando na missão do nosso BCB, ela pode não ser considerada impossível, a depender do horizonte que se considere, mas certamente não será fácil. Colocar a meta em 2022 é sim uma "missão impossível", mas fazê-la convergir em 2023 não seria tão "impossível" assim, desde que se estivesse disposto a incorrer nos custos de fazê-lo. Nos filmes, Ethan Hunt e sua equipe estão sempre prontos a ir ao limite, o que invariavelmente rende boas cenas de ação e grandes bilheterias, mas será que, se o BCB fizer o mesmo, a audiência vai aplaudir o resultado?
Para começar a discussão, vamos aos fatos. Para uma meta de inflação de 3,25% em 2023, as expectativas para o IPCA no mesmo período, indicaram um número ao redor de 4,00%, e a inflação corrente está em 11,29% no acumulado em 12 meses. Usando uma regra de Taylor simples para a economia brasileira, a conclusão é que os juros deveriam chegar a 15,50% a.a. para que houvesse convergência da inflação para a meta em 2023. Já partindo dos modelos de pequeno porte do BCB, estes teriam que ser elevados até 14,75% a.a.
Outra questão importante a salientar é que a política monetária atua com defasagens, por isso, apesar de desejável, não nos parece ser uma condição sine qua non para a interrupção do processo de alta dos juros que a inflação acumulada em 12 meses esteja em queda. Entretanto, temos boas razões para acreditar que ela esteja quando chegarmos à reunião de junho (marcada para o dia 14), momento no qual o BCB terá que decidir se interrompe ou não o atual ciclo de aperto monetário.
A conclusão é que os principais impactos para a inflação de curto prazo já estão bem precificados e que poderemos ter surpresas positivas até a reunião do Copom de junho. Obviamente que, com uma guerra correndo solta na Europa e a incerteza dos impactos da nova rodada de lockdowns na China sobre as cadeias produtivas, tudo pode mudar de uma hora para outra e o BCB seja impelido a avançar mais no aperto monetário. Entretanto, acreditamos que com a perspectiva mais favorável para a inflação de curto prazo e com a perspectiva de, finalmente, o BC americano remar para o mesmo lado, os juros por aqui poderão ficar em 12,75% a.a. até o final de 2022.