quinta-feira, 25 abril 2024

As mesmas desculpas de sempre

É impressionante como nos damos as mesmas desculpas de sempre para realizarmos ou não o que é preciso. Com medo de não nos comprometermos de verdade, pelo bem ou mal, dizemos o que não sentimos e nos colocamos em situações que não gostaríamos de estar. A pior sensação, então, é aquela de se animar para realizar algum feito, iniciar e no meio do caminho não saber se queremos mais, dando abertura às desculpas de sempre: falta de tempo, o cansaço ou o “precisar de um tempo livre”. 

Eu, particularmente, busco cumprir todas as promessas que faço a mim mesmo. Mas não nego que ultimamente tem sido muito difícil não me deixar cair sob as desculpas. Talvez eu culpe toda a situação que temos enfrentado, afinal, é inegável que a pandemia nos deixou fora de si, fazendo, inclusive, nos questionarmos sobre nossas condutas e se realmente gostamos e nos satisfazemos com o que desempenhamos. 

Por outro lado, percebo que quando é com a gente, a cobrança sempre é maior. E por que ser assim? Não vejo motivo para tanta carga. É preciso reconhecer que, em muitas ocasiões, a vontade é maior do que de fato a capacidade em realizar. Nos comparamos tanto aos outros e, até mesmo por isso, achamos que precisamos nos superar o tempo todo, sendo o melhor, inovando, sendo multifacetados, quando na verdade o que se quer é simplesmente fazer o arroz com feijão e deixar tudo meio morno. 

Isso seria uma vida sem emoção. Mas se assim fosse, talvez não nos tornássemos reféns da ansiedade e problemas advindos dela. Pode ser que não buscássemos fugas para aliviar a rotina, descarregando em medicamentos, exercícios ou na comida. 

É cansativo buscar pelo equilíbrio e sinceramente não sei se um dia o encontrarei. No fundo, acho que ele nem existe. Quanto mais me questiono, e acredito que assim seja com vocês, menos encontro respostas para as desculpas que crio e a essa carga que faço recair sobre mim. 

Gostaria de seguir os conselhos que dou. Adoraria ouvir mais o meu lado procrastinador, que por sinal talvez seja apenas alertas que minha mente produz, porque sabe que o fim é esse aqui: questionando sobre tudo e todas as necessidades. 

Mesmo tudo estando organizado, o que vejo e sinto é uma completa bagunça. É bem como arrumar a casa e, ao sair na rua, ver um cenário de destruição. É um desconforto sem explicação. Ao mesmo tempo, questionamentos mil rondam a cabeça. “Será que estou fazendo certo?”, “Será que não estou me precipitando?”, “Você deveria tomar mais cuidado”, e por aí vai. 

E em meio à pandemia, tudo tem um peso maior. É uma ameaça à sanidade mental ver todo mundo retomando suas atividades, saindo, indo viajar, enquanto o perigo, invisível aos olhos, nos cerca a cada dia mais. É como ignorar uma arma à cabeça pronta a ter o gatilho disparado. 

E aí surgem os questionamentos: “será que estou errado?”, “eu deveria fazer o mesmo?”, “devo me privar pelos que convivem comigo?”. E não fica mais fácil de encontrar respostas, porque delas advém as desculpas que sempre criamos para justificar nossos atos. É meio que mentir pra gente mesmo, tentando nos convencer, e aos outros também, que esta é a verdade. Somos tão incoerentes. E o pior, nos orgulhamos por pregar a mentira e julgar o outro por fazer igual. 

 

Escrito por: Marcos Barbosa | Jornalista e Apresentador 

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