Elas voltaram. Voltam todos os anos desde que o mundo é mundo. Estou falando das cigarras, insetos de metamorfose incompleta, com mais de 1.500 espécies. No Brasil, são percebidas na primavera e no verão onde os dias são mais quentes.
A “cantoria” que ouvimos são os machos tentando atrair as fêmeas para o acasalamento, que ocorre durante os meses quentes do ano. Este ano elas chegaram mais cedo, preludiando e avisando que nosso verão será bem mais quente que o normal.
Pessoalmente, gosto do “canto” das cigarras. Elas anunciam o ciclo da vida. As cigarras fêmeas, após o acasalamento, põem seus ovos e morrem logo depois. Os insetos jovens, as ninfas, caem no chão e entram na terra se alimentando da seiva de raízes. Depois de um período, cavam túneis, sobem nas árvores e sofrem uma metamorfose, a “ecdise”, se tornando adultas e prontas para o acasalamento. É a sinfonia da natureza anunciando o ciclo da vida.
Não é de agora que aprendemos com alguns insetos. A “cigarra e a formiga” é uma fábula atribuída a Esopo e tão bem recontada pelo francês, também fabulista, Jean de La Fontaine. Bem antes das fábulas, o sábio Salomão nos orientava a aprender com os insetos. Escreve ele: “vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio”. Há muita sabedoria na vida dos pequenos insetos. Salomão sabia disso.
Ademais, a cantoria anual das cigarras é capaz de despertar nossas memórias perdidas no tempo de nossa história. O canto das cigarras tem a capacidade pedagógica de nos lembrar as lições do Koélet que diz que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou… tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria…”.
Que nos sobre tempo para ouvir, nostalgicamente, o canto das cigarras, e, de alguma forma, aprender com elas.
É isso!
