Esses dias, no consultório de aconselhamento pastoral, me deparei, novamente, com uma cena que, em pleno sec. 21, ainda é muito comum: um casal em que o marido tem dificuldade de considerar o salário da esposa no orçamento do lar.
Esse jovem rapaz nasceu num ambiente no qual o homem é o responsável pela provisão do lar, assim, com essa cultura internalizada, o casal tem agregado ainda mais sofrimentos à crise financeira que estão atravessando.
Parece ser muito difícil pra ele desvencilhar-se dessa cultura introjetada desde a infância, assim como é muito difícil pra esposa vê-lo sofrer com as questões financeiras e não poder ajudar.
Lembrei-os de que a conjugalidade é uma construção diária, ou seja, ela não se define na assinatura de um contrato ou na impetração da benção religiosa. Com isso não estou banalizando o contrato ou o rito, estou apenas considerando que ambos não são suficientes para determinar o casamento.
É preciso construir, diariamente, o relacionamento, afinal, diariamente estamos em mudança. Hoje eu já não sou mais o mesmo de ontem, assim como todas as situações da vida. A vida não é linear, portanto, nada nela pode ser.
Um casal que está junto há 30, 40, 50 anos, não pode dizer que sabe tudo, que tem todas as respostas. Às vezes penso que o tempo não significa, necessariamente, maturidade, visto que, já atendi vários casais nos quais uma das partes (outras vezes ambas as partes) é muito imatura.
Relacionar-se conjugalmente demanda o entendimento de que a vida precisa ser mais partilhada do que departamentalizada. A Bíblia diz que: “deixará o homem pai e mãe e se UNIRÁ a sua mulher”. Por si só, a ideia bíblica denota que uma vida conjugal saudável compreende união. Como dizem os celebrantes: “na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza…”.
Unir-se a alguém para seguir juntos a estrada da vida, demanda compreender que não dá mais pra ser só de um jeito, a partilha e a cumplicidade devem, também, estar de mãos dadas com o casal na construção da conjugalidade.
Portanto, pra começar bem, ou melhorar aquilo que não esteja bem, é imprescindível romper com as rigidezes culturais e adentrar num novo mundo, onde uma nova cultura, mais leve e flexível, possa se estabelecer. A guerra dos sexos deve ser apenas tema de novela do século passado; no lar, a gente se esforça pra construir a união dos sexos para o bem comum.