sexta-feira, 22 novembro 2024

Fique atento

Por André Luís, teólogo e psicanalista
Por
André Luís
Foto: Arquivo Pessoal

“Jesus reagiu: ‘Isaias estava certo a respeito de enganadores como vocês. Ele acertou em cheio: Esse povo faz um grande show, dizendo as coisas certas, mas o coração deles não está nem aí para o que dizem. Fazem de conta que me adoram, mas é tudo encenação. Eles me usam apenas como desculpa para ensinar o que se adapta ao seu gosto, alterando o mandamento de Deus e sempre adotando modismos’.” (Marcos 7: 6-8)

Uau! Que pontuação é esta por parte de Jesus! No primeiro triênio do período chamado cristão (dC), já se detectava a expressão de uma religiosidade de favorecimento próprio que, usando a Bíblia (naquele momento, a Torah) e o nome de Deus, buscava atender interesses pessoais ou religiosos.

Jesus mesmo identifica e, ao mesmo tempo, expõe aos seus ouvintes a anarquia religiosa de seus dias.

Líderes e uma instituição (a sinagoga) que se valiam da Lei de Moisés e das tradições para: explorar a fé dos mais “frágeis” e para engrandecerem-se diante das pessoas.

Não sei você concorda comigo mas, me parece, que os pontuações de Jesus ainda fazem muito sentido e são muito aplicáveis aos nossos dias.

Há um grupo enorme de religiosos que se valem do nome de Jesus, de texto bíblicos e práticas religiosas, para satisfazer seus próprios egos e realizar seus desejos econômicos e obter a sensação de poder e influência.

Atualmente, dado o contexto no qual vivemos, onde um líder político recebe por parte de muitos cristãos o caráter messiânico; onde a religião se organiza em bancadas políticas para defender seus próprios interesses; onde o desrespeito para com a religião alheia é esbravejada em muitos púlpitos e por muitos ditos cristãos; onde o crescente número de violência contra mulher carrega consigo uma concentração especial em lares de pessoas religiosas; o nome de Jesus e a Bíblia têm sido evocados com tons de “autoridade espiritual”, ao ponto de, na boca desse tipo de religioso, tudo o que pontuei ser compreendido como obediência a Palavra de Deus.

Não, não faz sentido. Muito embora muita coisa seja dita e seja feita em nome de Jesus, na prática e no conceito, Jesus não tem nada a ver com isso.

Jesus não tem nada a ver com aqueles que se valem das Escrituras para subjugar as mulheres, impedindo a elas a fala e o direito de decisão, ou mesmo sequestrando-lhes a autonomia; Jesus não tem nada a ver com aqueles que defendem a causa da supremacia cristã em relação as outras pessoas ou outras crenças; Jesus não tem nada a ver com aqueles que, no nome dele, querem administrar a vida dos fiéis através de “profetadas”; Jesus não tem nada a ver com o poder religioso que se faz às custas dos pobres e dos ricos; Jesus não tem nada a ver com aqueles que, em nome dele, querem ditar as regras para uma sociedade não-cristã. Enfim, Jesus não tem nada ver com quem distoa do Evangelho; ele não tem nada a ver com comunidades e líderes religiosos que não se importam com as injustiças sociais, raciais, e de gênero que são impostas sobre as pessoas, especialmente, sobre os menos favorecidos.

Jesus é maior do que Lei. Aliás, ele é o fim da Lei. É o fim no sentido de quem coloca um fim na Lei como instrumento de santificação; e é o fim no sentido de finalidade da Lei. Finalidade que a Lei tinha de apontar para ele e conduzir o povo até ele. Porém, na sua encarnação, vida, ministério, morte e ressurreição, ele se torna mais importante que a Lei. Ele passa a ser todo o centro da fé no sentido de obediência (não mais imposta, mas satisfatória), imitação, modelo, valor e paradigma.

Desde os seus dias Jesus distoa de toda e qualquer religião, denominação religiosa, líder ou grupo religioso que desdenhe o humano em função de leis, mandamentos, ritos e rituais, dogmas, liturgias, constituição, confissões de fé, concílios eclesiásticos, e tradições religiosas.

Ora, se próprio Deus se fez homem para salvar o ser humano, como pode alguém, um grupo, uma instituição, desconsiderar o valor de um ser humano em detrimento de suas tradições e estruturas?

Não! O nome de Jesus não deve estar atrelado àqueles líderes e àquelas instituições religiosas que usam as falas de Cristo, as histórias bíblicas, e as interpretações personalizadas, para obter poder, dinheiro, influência e oprimir os fiéis e quaisquer outras pessoas.

Era assim que vivia boa parte da classe dos fariseus e escribas nos dias Jesus. Porém, é Jesus mesmo quem os denuncia. E, denunciando-os, abre os nossos olhos para que reflitamos sobre a quem e qual religião “cristã’ estamos submetendo a nossa vida e edificando a nossa fé.

Não faça de Jesus um produto na sua vida. Ele não é uma marca, não é um compêndio de regras morais. Ele é Deus. E, sendo Deus, se revela através das Escrituras Sagradas. Tal revelação se dá nas narrativas da sua vida, das suas ações, opiniões e movimentos diante de diversas situações na vida.

Assim, convido você a ler comigo os Evangelhos e descobrir por si mesmo, quem é Jesus.

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