quarta-feira, 24 abril 2024

Inclusão pelo trabalho é lição da pandemia

A Covid-19 ampliou a percepção e a visibilidade de estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que classificou o Brasil como o sétimo país com mais desigualdades, melhor posicionado apenas do que seis nações africanas, e o segundo com a maior concentração de renda, atrás somente do Catar. Tais assimetrias já se refletem de modo mais acentuado nas dificuldades da população carente, em meio aos danos econômicos provocados pela pandemia, que agravam nossa histórica dívida social. 

O relatório do organismo da ONU foi divulgado recentemente, mas os dados são referentes a 2017. De lá para cá, considerando a crise que o País já vinha enfrentando, com mais de 12 milhões de desempregados, a situação somente piorou, atingindo um grau ainda mais tóxico no cenário atual causado pelo novo coronavírus. Nesse contexto, é indispensável a ajuda do governo, como na concessão do auxílio emergencial de 600 reais e trabalho dos fundos de solidariedade dos municípios e estados, das empresas, das entidades de classe, de toda a sociedade e das famílias. Todos têm se mobilizado, dentro da capacidade de cada um, para socorrer as pessoas necessitadas, doando alimentos, roupas, remédios e equipamentos de proteção individual. 

Essa mobilização ratificou o perfil solidário dos brasileiros. Entretanto, ante as dimensões do problema, o aporte de recursos demandado é muito superior à capacidade financeira das famílias e do universo corporativo, abalados pela nebulosa conjuntura, bem como do Estado, que há muito está mergulhado em profundo abismo fiscal. Além disso, não se pode admitir a caridade individual e o assistencialismo estatal como soluções definitivas para as desigualdades socioeconômicas. Crescimento do PIB, com distribuição de renda e inclusão, deve ser a prioridade da agenda nacional do desenvolvimento. O êxito nessas metas somente será possível com a geração maciça de empregos, que depende de nossa capacidade de resolver os problemas que já enfrentávamos antes da pandemia, somados à maior complexidade que ela provocou. Precisamos de soluções concretas para o déficit social brasileiro, simultâneas ao assistencialismo do Estado e da sociedade. (…) 

A atenção social do Estado e a solidariedade humana serão sempre bem-vindas e necessárias, mas não podem perpetuar-se como políticas públicas de enfrentamento das desigualdades. É prioritário incluir as presentes e futuras gerações na economia e no mercado, outorgando-lhes efetiva cidadania, com um projeto de desenvolvimento que contemple a distribuição mais justa da renda, por meio da educação de qualidade para todos e do trabalho digno. 

Alguns exemplos, como os aqui citados, por menores que possam parecer no contexto global da Covid-19, mostram que isso é muito possível, em especial neste Brasil de imensos recursos naturais, população corajosa, trabalhadores e empresários resistentes e capazes de vencer crises, como as muitas que já enfrentamos. 

 

Escrito por: Fábio de S. Meirelles | Empresário e Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP 

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