A estudante Giovanna Bezerra, de 17 anos, morta na manhã da segunda-feira (23), na Escola Estadual de Sapopemba (São Paulo) é a 36ª jovem vítima fatal desse tipo de crime, que já ocorreu 36 vezes em escolas brasileiras, nos últimos 22 anos. Além dos alunos, pereceram quatro professoras, uma coordenadora e uma inspetora de alunos. Quatro dos agressores cometeram o suicídio e 102 pessoas restaram feridas. Giovanna teve seus sonhos abruptamente interrompidos, da mesma forma que as outras vítimas, alunos ou não, dos episódios anteriores.
Registre-se que o ataque à escola não é um fenômeno brasileiro. Ocorre em todo o mundo. Só nos Estados Unidos, foram 300 em 2022 e 131 até junho de 2023. Não esqueçamos das notícias desse tipo de crime na Europa e outros países de diferentes culturas e níveis econômicos. O adolescente de 16 anos que pegou a arma do pai – motoboy profissional – e levou à escola de Sapopemba, onde atingiu mortalmente Giovanna e ainda feriu outras duas alunas (que sobreviveram), tem histórico parecido com o dos demais agressores do gênero. Seus defensores alegam ter sofrido bullying e fazem disso a sua defesa que objetiva reduzir seu castigo e retirá-lo do recolhimento à Fundação Casa.
O governador Tarcisio foi ao local, reconheceu que o Estado não tem sido eficiente na prevenção e promete estudos e medidas. Um bom sinal, pois, diante da dificuldade de solução, outros governantes preferem o silencio. Noticia-se que o atual governo contratou 550 psicólogos para atender a um alunado de milhões, o que seria pouco. Raciocinemos, no entanto, que o psicólogo na escola deve ser mais útil para transferir técnicas de manejo a professores e servidores do que diretamente aos alunos e, nos casos mais significativos, trabalhar com os país dos alunos-problema. Tudo dentro de esquema tecnicamente elaborado para trabalhar os desvios em suas diferentes facetas. Há que se trabalhar os professores e os pais para convencerem os filhos e alunos a não ofender ou agredir as pessoas, explicando-lhes que isso além de ser falta de educação e respeito ao próximo, pode, inclusive, levar ao desenlace indesejado.
O certo é que o bullying apresenta-se como o grande indutor das explosões. Jovens diminuídos no grupo pela cor da pele, tipo do cabelo, perna torta, olho estrábico, alto, baixo ou qualquer outro problema torna-se a bomba que um dia explode e impõe sofrimento a todo o conjunto e às respectivas famílias. Governo, centro do saber, profissionais de diferentes ramos poderão ajudar a enfrentar esse desvio. Penso que a primeira e principal providência seria evitar a chacota em relação às dificuldades dos indivíduos. O governo com a devida seriedade e a responsabilidade que o problema requer deve fazer com a maior urgência um sério e bom trabalho de orientação e marketing como aquele que décadas atrás o governo brasileiro fez com o personagem Sujismundo”, que constrangeu o povo a não jogar papel ou lixo na rua. Passado todo tempo, ainda hoje, quem assistiu lembra do boneco de desenho animado que pugnava pela limpeza das vias públicas, e não joga papel no chão. E da mesma maneira todos deverão ter vergonha de ridicularizar o próximo
É enganosa a ideia de instalar dispositivos de segurança para evitar a entrada de metal na escola ou, até, a presença permanente de policiais no período das aulas. Isso poderá proteger a instalação, mas não os alunos, potenciais vítimas. O agressor que estiver determinado a eliminar aqueles que possam tê-lo menosprezado ou ofendido, se não puder agir dentro do prédio, o fará na esquina, na rua ou em qualquer outro lugar por onde sua vitima eleita transitar.
O mais aconselhável nesse quadro explosivo é desarmar os espíritos. Combater de maneira eficaz a prática do bullying e, nos casos onde o mal já estiver consolidado, encaminhar suas vítimas para terapia e outros serviços que desarmem seu ímpeto revanchista. Isso será bom para a comunidade escolar e para o próprio assistido que, quando ataca, além de não resolver a raiva que sente, torna-se pária da sociedade e, ainda, passa a enfrentar problemas com as autoridades policiais e judiciais. É preciso salvar tanto os agredidos quanto os agressores. Por isso, deve-se envidar todos os esforços para evitar o bullying, só assim resolveremos o problema. Há que se eliminar o bullying antes de sua prática porque, depois de cometido, sua vítima será uma criatura-problema e nem sempre recuperável. O bom é prevenir para não ter de remediar sem a certeza de solucionar os danos.