sexta-feira, 19 abril 2024

Os impactos da pandemia para uma geração de alunos isolados

Vindo do interior da Escócia para assumir a chefia de uma escola britânica em São Paulo, não foi surpresa para mim que as temperaturas, a topografia e o ritmo de vida nas extremidades do norte da Grã-Bretanha contrastassem fortemente com os da maior cidade da América do Sul. No entanto, como educador, sempre fico buscando as semelhanças entre as escolas em todo o mundo. Por mais diferentes que possam parecer à primeira vista, os padrões logo emergem. 

Um paralelo que eu não esperava encontrar quando fui nomeado para o cargo de diretor da St. Paul’s School, em outubro de 2019, era que as escolas na Grã-Bretanha e no Brasil seriam fechadas para os alunos por conta da pandemia do novo coronavírus. Assim como em meu último semestre na Grã-Bretanha, meu primeiro semestre no Brasil foi uma existência solitária em meio a salas de aula e corredores, campos e refeitório vazios. 

Os professores de ambos os países enfrentam o desafio do ensino online com energia e criatividade, os pais adaptaram suas vidas à medida que suas casas se tornaram espaços de ensino e os alunos tiveram que ajustar seus hábitos de aprendizagem para se adequarem ao mundo virtual. No começo, foi tudo um tanto irreal. Alguns saudaram o ensino online como o novo futuro brilhante para a educação. Para outros, foi um expediente do momento e as limitações do currículo online foram aceitas como inevitável, mas temporária, à medida que lutamos contra o vírus. 

Sete meses depois e ninguém mais tem a fantasia de que as crianças podem aprender mais rápida ou eficazmente online, se comparado ao ensino na sala de aula. Ninguém mais pode negar o custo emocional e físico que o fechamento de escolas tem causado às crianças. Passar hora após hora em uma tela, fazendo uma quantidade limitada de exercícios físicos, isolando-se das realidades de interação física e social – tudo isso deixará cicatrizes em uma geração já atingida por uma cultura de mídia social generalizada. 

Por essa razão, enquanto o mundo tropeça para sair da quarentena e dá alguns passos em falso ao longo do caminho, a reabertura das escolas vem sendo priorizada pela maioria dos governos. 

A maioria das evidências disponíveis sugere que as crianças em idade escolar correm, no mínimo, o risco de contrair ou transmitir a Covid-19. Mas, em um momento em que shopping, bares, restaurantes, salões de beleza, academias e praias estão reabrindo para todas as idades, nossas escolas seguem fechadas e vazias. 

Um programa de reabertura das escolas pode ser cauteloso e gradual, necessitando de ajustes ocasionais ao longo do caminho. Ao tentar derrotar uma emergência de saúde a curto prazo, devemos estar atentos ao custo disso para o desenvolvimento educacional, físico, social, emocional e mental de nossos jovens a longo prazo. 

 

 Escrito por: Titus Edge | Diretor da Sant Paul’s School, em São Paulo 

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