Adorava, às tardes, ir em sua residência para um cafezinho coado na hora
“Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João”. Era assim que eu brincava com o senhor João Sussi, presbítero emérito da Igreja Presbiteriana de Americana. Tenho saudades dele. Era homem doce, terno, de palavras sábias e amenas. Serviu à Igreja por longos anos. Daí o título de presbítero emérito.
Era uma reserva moral e espiritual da Igreja. Não tinha como não amar e não admirar. Amado e respeitado por esposa, filho e filha. Eu era um filho adotivo, filho do coração. Era seu pastor e companheiro de presbiterato. Mas ele me tratava como um filho, e eu o respeitava como pai. Sua assiduidade às atividades da Igreja era impressionante. Não perdia um estudo bíblico. Aluno frequente da Escola Dominical. Amava cantar no coral da Igreja. enfim, alguém que tinha o seu prazer nas coisas do reino de Deus. Esse era João Sussi. Era sapateiro, ofício raro hoje em dia. A Rua Fortunato Basseto foi testemunha de sua simpatia.
Acolhia a todos com carinho em sua sapataria. Sempre abarrotado de serviços, amava bater papos com seus inúmeros clientes anunciando-lhes quase sempre a boa notícia do evangelho. Pregava o dia inteiro. Sua sapataria era seu púlpito.
Não tinha como não ouvi-lo. Falava com docilidade própria daqueles que, de fato, amam a Deus. Ele amava. Seu amor a Deus era notório. Tinha seu prazer em anunciar, entre um cliente e outro, o amor de Deus em sua simplicidade.
Adorava, às tardes, ir em sua residência para um cafezinho coado na hora. Fechava a sapataria ao lado de sua casa e todos os dias era sagrado a hora de seu delicioso café. Não foram poucas vezes que ia para um bate-papo e um cafezinho. Que saudades que dá… Na Igreja, no final de um sermão, tinha um jeito sutil de elogiar a prédica. Dizia ele: “sermão carnudo, pastor”. Eu dava risada. Aquela simplicidade no ato de elogiar me fazia bem. Que saudades que dá…
Cheguei na Igreja ainda jovem. Impetuoso. Brincalhão. Lembro que, às vezes, senhor João puxava minha orelha. Vinha com tanta ternura que não tinha como não ouvi-lo. Ele era conselheiro. Ponderado, sempre. Cuidadoso. Zeloso. Carinhoso. Quem o conheceu sabe do que estou escrevendo. “Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem”. Era meu amigo e irmão João Sussi. Que saudades que dá…