quinta-feira, 25 abril 2024

Pensar e gerar um mundo aberto

Há algumas semanas recebemos uma significativa mensagem de paz e de fraternidade. Trata-se da encíclica “Fratelli tutti’ (todos irmãos), do Papa Francisco, “sobre a fraternidade e a amizade social”. O documento está dividido em oito capítulos, sendo o primeiro “as sombras de um mundo fechado”. Quais são essas sombras?

Eis uma triste “lista”: o egoísmo, a falta de interesse pelo bem comum; a prevalência de uma lógica de mercado baseada no lucro e na cultura do descarte; o desemprego, o racismo, a pobreza; a desigualdade de direitos e as suas aberrações, como a escravatura, o tráfico de pessoas, as mulheres subjugadas e depois forçadas a abortar, o tráfico de órgãos… Mais especificamente esse capítulo fala de “sonhos desfeitos em pedaços”. Quais foram os “sonhos”? Durante décadas, pareceu que o mundo tinha aprendido com tantas guerras e fracassos e, lentamente, ia caminhando para variadas formas de integração. Pense-se no sonho de uma Europa unida, capaz de reconhecer raízes comuns e regozijar-se com a diversidade que a habita; ou no anseio duma integração latino-americana (N. 10). Mas no mundo atual, esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade. Reina uma indiferença acomodada, fria e globalizada, filha duma profunda desilusão que se esconde por detrás desta ilusão enganadora: considerar que podemos ser onipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco (n. 30).

O livro do Eclesiastes afirma que “nada há de novo debaixo do sol” (1,9). Nesse sentido, podemos recorrer à história, que nos ensina sobre a época em que viveu São Francisco de Assis (1181-1226). Similarmente havia muitas divisões, inclusive uma guerra de cristãos contra islâmicos: a “quinta cruzada” (1217-1221). Mas o santo escolheu um caminho diferente. Eis como o Papa Francisco relata esse fato na encíclica citada:

“Na vida de São Francisco, há um episódio que nos mostra o seu coração sem fronteiras, capaz de superar as distâncias de proveniência, nacionalidade, cor ou religião: é a sua visita ao Sultão Malik-al-Kamil, no Egito. A mesma exigiu dele um grande esforço, devido à sua pobreza, aos poucos recursos que possuía, à distância e às diferenças de língua, cultura e religião. Aquela viagem, num momento histórico marcado pelas Cruzadas, demonstrava ainda mais a grandeza do amor que queria viver, desejoso de abraçar a todos….Sem ignorar as dificuldades e perigos, São Francisco foi ao encontro do Sultão com a mesma atitude que pedia aos seus discípulos: sem negar a própria identidade, quando estiverdes ‘entre sarracenos e outros infiéis (…), não façais litígios nem contendas, mas sede submissos a toda a criatura humana por amor de Deus’.

Os cristãos, juntamente com todos os homens de boa vontade, são chamados a construir um mundo diferente, que supere as divisões políticas, sociais, econômicas, religiosas e culturais.

Escrito por: Lino Rampazzo, doutor em teologia

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