Desde a infância aprendi que a gente tem de perdoar as pessoas que nos ofendem. Cresci com isso, e quando passei a fazer parte do ambiente religioso essa obrigatoriedade se tornou ainda mais intensa sobre mim.
De fato, perdoar é algo nobre e libertador, especialmente pra quem perdoa. Porém, o que nem meus pais e nem o ambiente religioso me ensinaram é que o perdão é um processo.
Muitos, tratando pedagogicamente o perdão, geralmente baseiam-se nas Escrituras Sagradas, por isso, por vezes, ensinam que o perdão deve ser imediato, ou seja, a gente perdoa quem nos ofendeu e ponto.
É claro que quem assim ensina, geralmente, o faz levando em consideração a pessoa de Jesus que, sendo Deus, nos perdoa de forma imediata e generosa. Porém, se nos compararmos a Jesus, que carrega consigo, além da humanidade, a divindade, nos frustraremos, pois não temos quaisquer condições de perdoar na mesma medida que ele perdoou. Nós, seres finitos, humanos e pecadores, só conseguimos perdoar a partir de um processo de elaboração da dor que sentimos.
Desta forma, não faz sentido exigir que uma criança, um adolescente, ou qualquer pessoa em qualquer fazer da vida, perdoe a outrem de forma imediata. É necessário respeitar o processo. Nesse processo do perdão devemos considerar: a) a dor sentida; b) o entendimento da situação que envolveu a ofensa; c) a elaboração da ira interior; d) o acolhimento tão necessário; e tudo isso demanda tempo, não dá pra ser do dia pra noite.
Acerca do perdão, no Evangelho segundo Mateus, Jesus propõe o processo, porém com uma iniciativa não muito trivial. Ele nos diz (Mateus 18), que é o ofendido quem deve buscar a reconciliação com o ofensor. E mais, Jesus ainda propõe que essa iniciativa do ofendido deve acontecer, pelo menos, em três tentativas, para, então, haver desistência. Acredito que essa iniciativa proposta por Jesus se dá por, pelo menos, três razões: 1) porque Deus, sendo o ofendido pelo pecador, é quem busca a reconciliação; 2) porque essa forma de lidar com a ofensa deve ser o processo pelo qual seus discípulos devem trilhar; e 3) porque a paz requer pacificadores e pacificadores lutam pela paz; e o primeiro passo para a paz é o perdão.
Assim, o perdão precisa ser desenvolvido dentro de um processo pelo qual a dor precisa ser sentida, refletida, ressignificada e, então, tratada, para que o perdão seja possível. Qual o tempo do processo? Bom, posso dizer que isso depende da condição, do momento, da maturação e do contexto social e cultural do ofendido. Não há um tempo determinado; há um processo a ser desenvolvido, este é o mais importante, para que o exercício do perdão, de fato, seja verdadeiro e libertador.