sábado, 13 dezembro 2025
REFLEXÃO & RAZÃO

Quando o mundo não gira em nós

“Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?“ (Marcos 8:36)
Por
Rev. André Luís Pereira

Há quem diga que o mundo não gira ao redor do nosso umbigo, e dizem com razão. Mas, se formos sinceros, admitiríamos que todos nós gostaríamos que girasse. Trabalhamos para isso, nos desgastamos para isso, e às vezes até oramos por isso. Mas o mundo, fiel ao seu próprio eixo, não gira em nós nem para nós. Apenas gira.

Confesso que considero isso uma pequena tragédia. Afinal, custaria tanto ao universo dedicar um único dia para girar em nossa homenagem? Talvez no aniversário, quem sabe. Mas não: ele segue seu caminho, imparcial, alheio a qualquer vaidade humana. E não gira em torno de ninguém.

Acreditar que tudo deveria girar ao nosso redor nos conduz, porém, a frustrações profundas: a)  descobrimos que não somos a última bolacha do pacote; b) percebemos que ninguém é obrigado a orbitar nossa vida; c) entendemos que Deus não é servo do nosso desejo, ainda que sejamos devotos e disciplinados.

É duro? Sim. Mas é real.

Se desejamos preservar aquilo que é mais precioso — a alma, a essência — precisamos renunciar à fantasia de conquistar o mundo. Abrir mão de ter tudo ao alcance da mão, de achar que todos nos devem atenção, de nos imaginarmos mais importantes do que qualquer outro. A graça é justamente o contrário: sermos humanos entre humanos.

Enquanto escrevo, recordo a canção de Humberto Gessinger, que desmancha nossas ilusões com delicadeza: “Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão; Um dia me disseram que os ventos às vezes erram a direção, E tudo ficou tão claro; Somos quem podemos ser.”

E isto, ser quem podemos ser, já é enorme.

Assim, guardemos o que somos. Cuidemos da nossa essência. Porque, na ansiedade de conquistar o mundo, podemos perder justamente aquilo que não deveria se perder: nós mesmos.

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