segunda-feira, 16 setembro 2024
Sem filtros

Sem filtros

Por
Por Rev. André Luís Pereira

Hoje, pela manhã, me deparei com a postagem de um líder religioso que, num evento infantil, fantasiou-se de Golias (o enorme soldado filisteu) e junto de uma criança, encenou a “grandiosa” batalha que é concluída com Davi, ainda adolescente, decepando a cabeça de Golias.

Foto: Arquivo Pessoal

Uma das crianças que assistia estava chorando, com medo do “Golias” e os adultos presentes se divertiam às custas do medo que, em dado momento, foi inflado pela performance do “gigante”, quando este se dirigiu a ela mostrando a sua espada e escudo.

Fiquei pensando: 1) qual o problema em se filtrar as narrativas bíblicas onde a violência se revela, especialmente quando o público é infantil? Ora, fala-se tanto no ambiente religioso contra desenhos infantis como, por exemplo, Pepa Pig, sobre a qual dizem ensinar a criança a fazer malcriações, porém, uma cena de violência como a descrita acima, não precisa de censura só porque “tá na Bíblia”? 2) Como podem adultos se divertirem com o medo de uma criança? Como pode um “artista” instigar ainda mais o medo de um vulnerável? Em nome de Deus vale mesmo qualquer coisa? 3) levar uma criança a encenar uma degolação, não seria expô-la à violência? Cadê o filtro?

Situações como essa que narrei, muito embora seja teatralização de um episodio narrado nas Escrituras Sagradas, deve ser censurado, obedecendo as faixas etárias. Não é porque “tá na Bíblia” que os adultos, inclusive pastores e líderes de departamentos infantis, devem expor as crianças a tais cenas. O contador de histórias cristão, deve ter um filtro pedagógico, ético e, igualmente, cristão. Nós não celebramos a morte; não comemoramos nenhum tipo de violência. Davi, segundo as mesmas Escrituras Sagradas, foi impedido de construir o templo de Jerusalém porque, conforme pontuou o próprio Deus, “suas mãos estavam sujas de sangue”.

Portanto, é necessário que o líder religioso tenha filtro, sem achar que este filtro implica em distorcer as histórias bíblicas. Cada fase do desenvolvimento infantil deve ser conhecida, pelo viés do psicodesenvolvimento, da psicopedagogia e da teologia, e, então, respeitada.

Escrevo em nome de (e por) uma infância protegida, educativa e mais saudável.

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