quarta-feira, 26 novembro 2025
CRÔNICA

Violências

A humanidade parece ter se subdesenvolvido de tal maneira que a agressão se multiplicou em formas, rostos e estratégias
Por
Rev. André Luís Pereira
Rev. André Luís Pereira, Ministro Presbiteriano e Psicanalista

Disse-lhe Jesus: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão.” (Mateus 26:52)

Fala-se cada vez menos em violência, no singular, e cada vez mais em violências. A humanidade parece ter se subdesenvolvido de tal maneira que a agressão se multiplicou em formas, rostos e estratégias. Quando essa pluralidade se espalha, não é apenas o vocabulário que muda — o mundo muda. E muda para pior.

Há poucos dias, atônito, assisti às imagens das violências no Rio de Janeiro. Ali havia de tudo: violência física, violência moral, violência institucional e até violência visual. As próprias imagens agrediam.

E agressivas também foram as reações ao ocorrido: políticos, imprensa, empresários, população, líderes comunitários e religiosos dividiram-se em opiniões sobre a legalidade e a letalidade das ações. O país inteiro transformou-se em um debate tenso, inflamado, como se cada lado empunhasse a própria espada interpretativa.

Jesus nunca foi defensor da violência. Ao contrário, chamou seus discípulos à pacificação. Quando Simão, armado como estava, usou sua arma contra outro ser humano, Jesus o repreendeu.

Gosto de pensar que a arma que Pedro carregava fazia sentido no ofício: para os peixes que capturava, para os animais peçonhentos que pudessem atacá-lo — nunca para ferir pessoas. A própria Lei condenava o uso injusto da força, embora alguns textos do Levítico se apoiassem no princípio do “olho por olho, dente por dente”. Mas, em Jesus, muita coisa é revista, relida e conduzida para o eixo da misericórdia.

É evidente — e merece respeito — que existam interpretações diferentes da que apresento aqui. Há cristãos que defendem o porte de armas e o uso delas para a legítima defesa da vida e da propriedade privada. Contudo, isso é assunto para uma boa conversa com quem aprecia um debate honesto, talvez acompanhado de um bom vinho.

O que vimos no Rio, porém, foi o uso da força como resposta ao crime organizado — e, ao mesmo tempo, o reforço da lógica perversa que tenta combater violência com mais violência. No fim das contas, a humanidade sai diminuída, empobrecida, exposta ao seu pior.

A reflexão sobre as violências precisa ser feita com coragem, fé e discernimento, porque cada discípulo e cada comunidade têm a difícil missão de escolher, todos os dias, qual espelho desejam refletir: o da espada ou o do Evangelho da paz.

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