quinta-feira, 25 abril 2024

Virtudes para um novo tempo

Tempos de turbulência, tempos nervosos, ciclo do medo, paisagens mortuárias e locupletadas de doentes, aqui, ali e nas lonjuras do planeta. Hora da grande reflexão: o que tenho, o que sou e o que serei nesse novo mundo que ainda não mostrou de todo a cara? A reflexão de hoje é uma estreita vereda por onde podemos passar, sob a crença de que todo esforço se fará necessário para lapidarmos valores e virtudes ou mesmo tentarmos adquiri-las. 

E não podemos perder tempo. Sêneca, o sábio, ao escrever sobre a brevidade da vida, ensina: “Não é curto o tempo que temos, mas dele muito perdemos. A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido”. 

Saber administrar o tempo é, hoje, um dos desafios instigantes do nosso cotidiano. O tempo não se mata. “Quem mata tempo é suicida”, satirizava Millôr Fernandes. A reprimenda parte também do dramaturgo inglês H.D. Thoreau: “Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade”. 

Mãos à obra. Tempos de prudência, que os estóicos consideravam “a ciência das coisas a fazer e a não fazer”, e que supõe o risco, a incerteza, o acaso, o desconhecido. André-Comte Sponville lembra bem, quando diz que a prudência sugere a ética da convicção ou, ainda, a ética da responsabilidade, nos termos de Max Weber. Somos impelidos a responder por nossos atos e por suas consequências. 

Ao lado da prudência, impõe-se a virtude da moderação, tão importante nesses tempos agressivos que estamos presenciando. Não exagerar, não romper os limites de nossas identidades, desfrutar livremente da própria liberdade, contentar-se com pouco ou com o estritamente necessário, sem arroubos e extravagâncias que acabam roubando nosso estoque de bom senso. Já a intemperança, dizia Montaigne, é “a peste da volúpia”. 

Tempos de pavonice, tempos de alta visibilidade, de desfiles canhestros na mídia para chamar a atenção de espectadores e ouvintes. Tempos de Luís XIV, que desfilava em Versailles em seu cavalo branco adornado de diamantes. Tempos do Estado-Espetáculo, onde atores e atrizes da política desfilam vaidades. Daí desponta o valor da humildade, que Sponville designa como “a virtude do homem que sabe não ser Deus”. Por fim, cultivar o amor. Amar o próximo deve significar praticar todos os deveres para com ele. Amar os entes queridos, praticar boas ações, eliminar eventuais doses de ódio que chegam nas ondas de intensa polarização política. Nietzsche anunciava: “o que fazemos por amor se consuma além do bem e do mal”. 

 

Escrito por: Gaudêncio Torquato | Jornalista, professor e consultor político  

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