O aposentado Pedro Rodrigues, 66, que é evangélico, disse que tinha entrado na igreja cinco minutos antes do ataque porque gosta de ver outras pessoas rezando. “Entrei no final da missa, entrei para observar, às vezes entro na igreja para observar as pessoas. Eu estava de seis a sete bancos atrás dele. Logo vi ele levantar e dar os tiros à queima roupa num casal. Assustei, mas nem deu para sentir o susto. Um dia terrível, que nunca quero ver outra vez. Tô com 66 anos, mas nasci de novo hoje”, declarou.
O padre Amaury Thomazzi, que celebrava a missa na hora em que o atirador Euler Grandolpho entrou na Catedral de Campinas, usou uma rede social para gravar um vídeo e divulgar o que aconteceu. “Para os amigos que estão pedindo algumas informações, estou mandando esta mensagem apenas para dizer que está tudo bem aqui na catedral. Eu rezei a missa do meio dia e quinze, e, no final da missa, uma pessoa entrou atirando e fez algumas vítimas. Ninguém pode fazer nada, ajudar de forma nenhuma”, relatou, com a voz embargada.
O religioso pediu orações em favor de todos, a começar pelo atirador, que cometeu suicídio após matar quatro fiéis e ferir outros quatro. “Peço apenas que rezem pela pessoa. Ele se matou depois da situação, ele atirou nas pessoas; foram mais de 20 tiros aqui dentro, e depois ele se matou. Então, rezemos por ele, e por aqueles que foram feridos. Tem pessoas que são vítimas fatais. Peçamos a Nossa Senhora Imaculada que interceda por esta catedral, por estas pessoas, por estas famílias”, enumera o padre.
Thomazzi afirmou ainda não saber como ficará a programação da igreja nos próximos dias – o lugar está interditado para perícias. Fotos não oficiais mostram o atirador ferido com um tiro na cabeça, e o corpo apoiado numa pilastra de madeira.
Moradora de rua, Artemis José de Oliveira, 40, conta que viu os feridos saindo da igreja. “Ouvi os tiros e vi um senhor com sangue no ombro saindo e uma senhora também baleada que caiu na porta. A polícia saiu atirando na porta pra dentro da igreja. Teve troca de tiro”, afirma. “Pensei nos fiéis da igreja que sempre nos ajudam. Foi horrível”.
FAMÍLIA DESTRUÍDA
Silvio Antônio Monteiro, 47, deixou a mãe Jandira Prado Monteiro, 62, dona de casa, no ponto de ônibus e ela seguiu para o centro de Campinas, onde se encontraria com o filho Sidnei para irem ao dentista juntos. Ambos combinaram de se encontrar na catedral. Mãe e filho moravam na cidade de Hortolândia. Sidnei Vitor Monteiro, 39, foi uma das quatro vítimas fatais do atirador Euler Fernando Grandolpho.
“Eu não consigo acreditar no que aconteceu. Hoje é meu aniversário e olhem o presente que ganhei”, disse Sílvio.
A mãe precisou operar a mão e a clavícula. Passava bem, mas não sabia que o filho havia morrido. “Dissemos a ela que ele está bem cuidado. Eles eram muito próximos, não sei como vai ser.”
Sidnei era eletricista na Unicamp, casado e tinha uma enteada. Era o caçula de três filhos de Jandira e Milton Candido Monteiro, 71, que também trabalha na Unicamp.
O irmão soube da tragédia quando recebeu ligações do hospital no celular, mas como estava trabalhando não conseguiu atender. Mais tarde foi contatado de novo e levado para o hospital.
“Era o caçula querido. E uma mulher que só sai para ir à igreja e ao dentista acontecer uma coisa dessas? Meu Deus”, disse ele, casado há 50 anos.
Silvio estava no trabalho quando, por volta das 14h30, recebeu ligações do hospital contando que a mãe e o irmão foram vitimados. “Aí veio o aperto”, afirma. “Ela [mãe] fala dez vezes por hora no nome dele [Sidnei]. A gente diz que está bem, não sabemos como contar. A família está destruída”, afirmou.
A empregada doméstica Edna Rodrigues, 58, soube do ataque quando viu a notícia na TV, no trabalho. “Fiquei apavorada. Minha irmã não sai da igreja”, disse ela, sobre a irmã, Lourdes, 78.
Recebeu ligações da família dizendo que a irmã estaria morta e correu para o IML do cemitério dos Amarais. “Eu vim para cá, outro foi para outro cemitério, outro foi para o hospital. Ficamos desesperados”, contou.
No IML (Instituto Médico Legal), soube que a irmã estava no hospital, em bom estado de saúde, que havia sido atingida de raspão e não precisaria ser operada.
“Graças a Deus, que alívio. Mas não vou sair daqui. Quero ver a cara dele [atirador]. O que ele fez não se faz.”
Com texto de Francisco Lima Neto e Agência Brasil