A Polícia Federal em Campinas realizou nesta terça-feira (30) uma operação para desarticular uma organização criminosa especializada em roubos de cargas e caminhões. Foram expedidos 35 mandados de prisão temporária e 49 de busca e apreensão em cinco estados: São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e Mato Grosso.
Mandados em Campinas
Houve cumprimento de dois mandados de prisão e quatro de busca e apreensão em Campinas. Também foi realizado o bloqueio de R$ 40 milhões em bens e valores ligados à quadrilha.
“O que retroalimenta o crime de roubo de cargas é, na verdade, o mercado, porque nós encontramos empresas que demandavam determinado tipo de caminhão, empresas transportadoras ou empresas recuperadoras que buscavam determinado tipo de peça ou caminhão. Então, os roubadores vendiam para os receptadores, uma média de caminhões de 700 a 1 milhão e meio eram vendidos por 120 mil reais. Esses receptadores usavam uma rede e desmontavam o caminhão entre chassi, cabine, diferencial, motor, e vendiam isso pelo triplo do preço a outros receptadores”, explica o Delegado-Chefe da PF em Campinas, Edson de Souza.

Operações
As investigações, iniciadas a partir da Operação Cacaria em 2024, revelaram que o grupo estava ligado a pelo menos 50 crimes cometidos entre agosto de 2024 e junho de 2025. Os integrantes atuavam em diferentes frentes: roubo direto a caminhoneiros, contratações falsas de fretes via aplicativos e ataques em áreas de descanso nas rodovias.
“Nesse período em que nós já identificamos pelo menos 50 eventos, nós calculamos aproximadamente o valor dos veículos, que chegam a R$ 30 milhões nesses meses em que eles trabalharam, e mais o faturamento que eles tiveram. O faturamento era muito maior, mas os valores ganhos, a partir disso, chegavam a 10 milhões. Eles tinham metas, a meta era sempre dois veículos por semana, pelo menos, e nós encontramos todas as modalidades de roubo e de abordagem nessa organização criminosa. Contratação por frete, abordagem violenta com o caminhão em movimento, ou abordagem violenta quando o veículo estava parado”, conta o delegado.
Quem deveria proteger…
Durante as investigações a PF se deparou com uma situação absurda: empresas de rastreamento veicular, contratadas por empresas de transporte e por caminhoneiros, atuavam dando suporte aos criminosos, passando informações sobre seus clientes. “O que nós percebemos é, empresas de rastreamento, de monitoramento, vendendo informações, profissionais de recuperação de veículos, de rastreadoras que identificam um determinado local, que vão até o local e, em vez de recuperar o caminhão, cobram valores dos criminosos, que chegou até a 50 mil reais. Nós temos, além disso, grandes empresas com renome no mercado, utilizando-se do mercado ilícito ou intermediando peças para os seus clientes.”
Apesar do impacto da operação, com dezenas de mandados cumpridos, a Polícia Federal avalia que o grupo não foi totalmente desarticulado e que outras pessoas podem ser responsabilizadas.
“Essa é a operação mais completa, que atinge todo o ciclo, desde o roubo até a lavagem de dinheiro. No entanto, nós já entendemos que há outros roubos que ainda não foram identificados. Nós acreditamos que possa passar do dobro desse tipo de roubo pela quantidade, principalmente por um período que nós temos entre janeiro e maio desse ano, e acreditamos que haja muito mais pessoas envolvidas. Então, são organizações criminosas que se comunicam com outras organizações criminosas, e normalmente nessas operações o volume de informações revela uma rede ainda maior”, finaliza.

Saldo
Ao menos 29 pessoas foram presas durante a operação. Outras seis seguiram foragidas até o fechamento da reportagem.
Crimes
Os investigados responderão por organização criminosa armada, roubo, receptação e lavagem de dinheiro, com penas que podem ultrapassar 40 anos de prisão.
*Atualizado às 15h45