quinta-feira, 25 abril 2024

Com quarentena, crimes patrimoniais em SP caem até 65%, mas homicídios sobem 10%

Os crimes patrimoniais, como furtos e roubos, tiveram uma redução de até 65% no estado de São Paulo durante os primeiros 15 dias da quarentena decretada pela gestão João Doria (PSDB) por causa do novo coronavírus. Por outro lado, houve aumento de até 10% nos chamados crimes de sangue -homicídios e latrocínios (roubos com morte)-, segundo balanço interno do governo paulista. 

Ainda de acordo com esse estudo produzido pela cúpula da Secretaria da Segurança Pública, obtido pela reportagem com exclusividade, essa queda de crimes patrimoniais ocorre mesmo com um aumento de 143% nas ocorrências de tentativa de furto atendidas pela Polícia Militar no estado. Elas passaram de 875 registros para 2.126 nesse período de quarentena, em comparação a 2019. 

No total, os acionamentos da população ao serviço de emergências 190 cresceram 3% no período, o que representa, em números absolutos, 10.904 casos a mais. Elas foram de 391.357 para 402.261 boletins. Parte desse crescimento se deve aos chamados envolvendo pancadões (bailes funk) e perturbação de sossego, que tiveram um incremento de até 72% no número de reclamações feitas. 

O levantamento foi feito com dados produzidos pelas polícias entre 20 de março e 7 de abril deste ano, comparados aos dados de 22 de março e 9 de abril do ano passado. Embora correspondam a datas diferentes, o parâmetro escolhido compreende uma contagem de 18 dias iniciada em uma sexta-feira e concluída em uma terça e, assim, com perfil igual de dias. 

O primeiro ciclo de quarentena em São Paulo compreendeu os dias entre 24 de março e 7 de abril, mas foi estendido pelo governador João Doria (PSDB) até o próximo dia 22. Há a expectativa de nova ampliação desse isolamento social e com medidas mais severas para garantir o cumprimento do decreto, com fechamentos de estabelecimentos e até com prisões. 

As estatísticas oficiais de violência referentes ao mês de março só devem ser divulgadas no próximo dia 24 pela Secretaria da Segurança. A expectativa do governo é que essa queda acentuada se confirme e, também, que as reduções de abril sejam ainda maiores, pois os indicadores diários apontam forte redução dos crimes na primeira semana deste mês de abril. 

Ainda de acordo com o balanço do primeiro ciclo de quarentena, a maior redução registrada foi dos furtos de maneira geral, que tiveram queda de 65%, e, em números absolutos, de 17.807 ocorrências. Eles foram de 27.429 boletins nos 18 dias do ano passado, para 9.622 casos. 

Já os roubos em geral, crime cometido com violência ou grave ameaça, apresentaram queda de 40%, o que representa 5.197 casos a menos. Eles foram de 13.151, nos 18 dias de 2019, para os 7.954 registrados pela polícia agora. 

Os furtos e roubo em geral envolvem delitos cometidos contra transeuntes (como com celulares), residências invadidas e estabelecimentos comerciais furtados. Não há especificação sobre a porcentagem de cada um deles nas estatísticas produzidas pelo governo. 

Desde o mês passado, a PM tem reforçado o policiamento destinado a evitar saques e furtos a mercados e outros estabelecimentos comerciais, assim como o patrulhamento em áreas residenciais. 

“Não só a polícia [tem contribuído para redução dos furtos]. A própria população também, porque as pessoas estão em casa. Se a pessoa pula um portão para furto em residência, agora tem gente”, disse Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

“Vale a pena olhar e entender a natureza dessas tentativas, até para que possa ser possível planejar um policiamento orientado para isso. É até difícil registrar tentativas de furto. É bem provável que seja em algum estabelecimento comercial, o cara que tentou entrar à noite, ou até mesmo em uma residência”, disse a diretora executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo. 

Para os especialistas em segurança pública e integrantes da gestão João Doria, a queda de roubos e furtos era esperada diante da redução do movimento de pessoas nas ruas. O que precisa ser estudado, porém, é o aumento de homicídios dolosos (intencionais) e a queda nos estupros. 

Os crimes sexuais no estado de São Paulo, segundo o estudo do governo, passaram de 186 registros para 101, redução de 46%. Para Lima, “é pouco provável que a violência tenha caído”, mas que haja falta de notificação. “A denúncia aparece quando a mãe sai de casa, alguém sai de casa, e faz o registro. No momento em que você está em confinamento, não tem oportunidade de fazer a denúncia o registro.” 

Quanto ao crescimento dos homicídios, Carolina diz que é necessário uma análise para tentar entendê-los. 

“Sempre é um desafio entender o que está por trás dos homicídios, se são conflitos interpessoais, se estão relacionados ao tráfico de drogas, ou disputa territorial, ou são homicídios por vingança. Se não tem a natureza desses homicídios, é mais difícil de analisar. Nesse momento, fica uma pergunta: será que são homicídios interpessoais, por exemplo?”, disse. 

A especialista chama a atenção para o aumento das tensões domésticas. “Precisamos ficar atentos ao que está acontecendo [dentro] nas casas. Confinamento gera tensões muito fortes de convivência, que podem virar uma violência letal.” 

Procurado, o secretário-executivo da PM, o coronel Álvaro Camilo, disse que não teve acesso aos dados da violência até a conclusão desta reportagem. 

 
Por Rogério Pagnan

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