sábado, 20 abril 2024

Isolamento aumenta violência em casa

O confinamento social em decorrência da pandemia mundial do novo coronavírus acendeu um alerta sobre o aumento dos casos de violência doméstica neste período. É que marido, mulher e filhos estão trancafiados dentro de casa e há risco de acirrar os ânimos. As agressões contra as mulheres subiram 8,4% durante a quarentena no País, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. 

A média entre os dias 1 e 16 de março (antes da quarentena) foi de 3.045 ligações por dia ao número 180, com 829 denúncias registradas. De 17 a 25 de março, o número subiu para 3.303 ligações diárias, com 978 denúncias registradas. A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que as estatísticas no Estado e na Região serão divulgadas no final do mês. 

Coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher no Estado, a delegada Jamila Jorge Ferrari disse que o aumento desse tipo de violência é uma preocupação da Polícia Civil. Segundo a delegada, isso ocorreu em países como França e Espanha, por exemplo, que também implantaram o confinamento como prevenção à Covid-19. 

Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Americana, Léa Amábile disse que esse índice subiu nos países que iniciaram a quarentena, antes do Brasil, e alertou que o mesmo pode ocorrer na região. Por isso, desde o dia 2 de abril, os boletins de ocorrência de violência contra as mulheres no Estado podem ser registrados na Delegacia Eletrônica.  A partir do registro na internet, informou Jamila, a polícia verificará se a mulher precisará de medida protetiva de afastamento do agressor. 

“Não é só o estresse. As mulheres ficam confinadas, debaixo do mesmo teto, com o agressor, o que gera frustração e estresse”, explicou Jamile. Por isso, a delegada chamou a atenção para a sociedade ajudar as mulheres, principalmente os vizinhos, familiares ou amigos. 

MODERADORA 

A advogada Cema Leal Veloso é moderadora há mais de dez anos do grupo privado Lei Maria da Penha na rede social com mulheres vítimas de violência, e também observou o aumento das reclamações pós-confinamento. As vítimas recebem apoio de advogados e psicólogos neste grupo. 

“A minha opinião como especialista na Lei Maria da Penha não é que o isolamento fez as pessoas ficarem agressivas. Esses agressores já eram agressivos. Provavelmente, essas mulheres já sofriam violência doméstica. Só que agora, com o isolamento, o grau aumentou. Por quê? Imagina passar o dia todo trancada, psicologicamente abalada com medo da doença, de perder emprego, as contas que vão chegando. O que acontece? Claro que vai aumentar a violência doméstica”, disse Cema. 

SAIBA MAIS 

– A orientação às mulheres agredidas é que procurem as autoridades o mais rápido possível.  

– Caso sintam receito, devido à presença dos agressores em casa, podem procurar ajuda com vizinhos, amigos ou parentes.  

– Qualquer tipo de violência deve sempre ser denunciadas às autoridades. 

NOTIFICAÇÕES CRESCEM 54% 

A presidente do CMDM (Conselho Municipal dos Direitos da Mulher) de Americana, Léa Amábile, informou que o número de fichas de notificações compulsórias de mulheres que buscaram os serviços de saúde por causa de violência doméstica subiu de 19 em março de 2019 para 29 em março de 2020. Um aumento de 54%.  

Mas Léa ressalta que não é possível afirmar que foi decorrente da quarentena ou porque o serviço de saúde está registrando mais os casos em virtude do aumento do treinamento das equipes nos últimos quatro anos.  

Léa até acredita que esse aumento possa ter ocorrido por causa do confinamento provocado pela decretação da quarentena em todo o Estado, seguindo o que já ocorreu em outros países pelo mesmo motivo, mas não pode afirmar categoricamente. Somente estatísticas oficiais da polícia podem fazer esta correlação, segundo ela.  

Essas mulheres adultas que buscaram os serviços de saúde são orientadas a registrar boletim de ocorrência nas Delegacias da Mulher e procurar os serviços socioassistenciais – e até o serviço de saúde mental -, disponíveis na rede de apoio. Quando a violência envolve crianças e adolescentes e idosos, são encaminhados aos respectivos conselhos. 

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