terça-feira, 28 outubro 2025
INDÚSTRIA

Déficit comercial da região de Campinas ultrapassa US$ 1,1 bi em meio a alta das importações e temor por crise hídrica

Enquanto o comércio exterior regional enfrenta forte desequilíbrio, indústrias da região demonstram preocupação com escassez de água e aumento de custos operacionais
Por
Guilherme Pierangeli

O comércio exterior das 19 cidades que integram a regional Campinas do Ciesp registrou um novo salto no déficit comercial em setembro. Segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, as importações somaram US$ 1,44 bilhão, alta de 26,9% em relação ao registrado em setembro de 2024, enquanto as exportações recuaram 4,7% no mesmo comparativo, atingindo US$ 310,6 milhões. 

O resultado ampliou o saldo negativo mensal para US$ 1,13 bilhão, o maior dos últimos 12 meses.

O resultado ampliou o saldo negativo mensal para US$ 1,13 bilhão, o maior dos últimos 12 meses. Foto: Carlos Bassan/PMC

Déficit acumulado cresce com força
No acumulado do ano, as importações chegaram a US$ 10,95 bilhões, avanço de 18,9%, contra US$ 2,65 bilhões exportados, alta modesta de 2,4%. O déficit acumulado já é de US$ 8,3 bilhões, um aumento de 25,4% frente ao mesmo período do ano passado. 

Por se tratar de uma região com várias indústrias que dependem de matéria-prima estrangeira, é comum o registro de déficit na balança comercial, embora ele tenha se acentuado ultimamente.

Paulínia e Campinas mantêm protagonismo
Entre os municípios que mais movimentam a balança, Paulínia segue na liderança com US$ 4,8 bilhões em importações e US$ 647,5 milhões em exportações, puxada pela indústria química e petroquímica. 

Campinas aparece na sequência, com US$ 2,61 bilhões importados e US$ 846 milhões exportados, representando 32% das vendas externas da região.

Tarifaço e dólar pressionam balança
O aumento recente das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros não impactou tanto as indústrias da região. Os EUA seguem como principal destino das importações, com quase 20% do total de produtos exportados na região. 

De qualquer forma, as conversas entre os governos brasileiro e americano animam as empresas, que buscam melhorar esses números. “É claro que esperamos uma reversão, até porque o problema não é exclusivo do Brasil. Se analisarmos de forma geral, a perda de exportações para os Estados Unidos não é nada traumática. Há muito pânico no mercado, mas não há motivo para isso. Quem também enfrenta forte pressão é o próprio público americano, e há produtos-chave em que quem mais sofre são eles. Por isso, deve haver sim uma reversão, justamente por essa diferença. Caso contrário, nem teria sido aberta a possibilidade de diálogo”, opina Anselmo Riso, diretor de Comércio Exterior do Ciesp Campinas.

“Acredito que os primeiros produtos beneficiados serão aqueles que mais impactam o consumidor americano. O Trump não está preocupado com as perdas do Brasil, mas em atender as necessidades internas, especialmente das indústrias que dependem das terras raras — ponto central de todo esse processo de tarifaço”, completa.

Crise hídrica preocupa setor industrial
Em meio ao cenário econômico, 67% das indústrias da RMC demonstraram alta preocupação com a escassez hídrica e o risco de racionamento de água nos próximos meses, segundo a Sondagem Industrial Mensal do Ciesp Campinas. 

A combinação entre estiagem, aumento de tarifas energéticas e custos de transporte acende o alerta no setor produtivo. “Em 2014, chegamos ao extremo: havia filas de caminhões e o preço da água transportada por caminhões-pipa chegou a quintuplicar, o que afetou fortemente as indústrias que dependiam desse abastecimento”, lembra Valmir Caldana, 1º vice-presidente do Ciesp Campinas.

As indústrias de alimentação e bebidas, que tem a água como matéria-prima, devem ser as mais afetadas. “Acredito que, para o setor de alimentos e bebidas, a gestão da crise hídrica é bastante estratégica. É importante manter no radar os períodos de pico e de escassez registrados ao longo dos anos, desde que a crise hídrica começou a entrar definitivamente no nosso horizonte, entre 2013 e 2014″, afirma Stefan Rohr, 2º vice-presidente do Ciesp Campinas.

E este assunto será tema de uma reunião a ser realizada no Ciesp Campinas no início de novembro. “No dia 5 de novembro, o Ciesp vai sediar, aqui na nossa sede, a reunião plenária da Agência Nacional de Águas com o Comitê das Bacias PCJ — Piracicaba, Capivari e Jundiaí — que compõem a nossa região. É uma reunião itinerante, e estamos convidando nossos associados a participar e debater o tema”, conta Caldana.

Produção e empregos estáveis, custos em alta
Apesar do receio com o abastecimento, a questão ainda não impacta a produção, pois 67% das empresas mantiveram o mesmo nível de produção em outubro e 22% registraram aumento. 

O quadro de empregos permanece estável, mas 50% das indústrias relataram alta nos custos de energia, água e matérias-primas, reforçando a pressão sobre a rentabilidade.

Perspectivas moderadas para o fim do ano
A corrente de comércio, ou seja, a somatória das exportações e importações da região, registra crescimento de 15,3% no acumulado dos últimos 12 meses. 

Apesar disso, o cenário de incertezas, impulsionado pela crise hídrica e pelo tarifaço internacional, gera cautela entre os empresários.

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