terça-feira, 25 junho 2024

Deus não está no Controle

Por Reverendo André Luís Pereira
Por
André Luís Pereira
Foto: Arquivo Pessoal

A frase que está entre as mais ditas por alguns cristãos é: “Deus está no controle” . Contudo, quando questionados acerca deste controle, muitos deles não sabem explicar o que isso significa.

Alguns dizem que o divino, por ser ou pra ser divino, controla todas as coisas que acontecem, inclusive tudo aquilo que é mau e traz sofrimento aos seres humanos, como mortes, pestes, epidemias, pandemias, tsunamis, fome, etc; por outro lado, outros dizem que Deus está no controle somente daquilo que é bom, contudo, estes que assim creem têm dificuldade de explicar os males do mundo para além do simplismo: o diabo.

Afinal, Deus está ou não está no controle? A resposta, na minha perspectiva, é: NÃO. E isso não implica em negar-lhe a soberania e nem a onisciência.

Considerar que Deus não esteja no controle de todas as coisas implica apenas em considerarmos o arbítrio que o ser humano tem de gerir o mundo, cuidar da natureza e se desenvolver a partir do conhecimento que recebeu e tem desenvolvido ao longo dos anos através da capacidade de pensar, criar e transformar.

Considerar que Deus não esteja no controle fala da parceria graciosa que ele nos oferece, através de valores éticos, implícitos e explícitos na vida e mensagem de Jesus.

Considerar que Deus não esteja no controle nos responsabiliza, também, diante da vida, das demandas e dos desdobramentos de todas as decisões que tomamos (ou não) enquanto indivíduos e sociedade.

Mas, então, qual controle Deus detém? Reafirmo: todo o controle, porém, como também já disse, por ter decidido criar um ser que carrega consigo a sua imagem e semelhança, a saber, capacidade de se relacionar, raciocinar, compadecer-se, amar, respeitar, transformar, decidir; e por ter decidido dar a este ser domínio de si e do mundo criado, Deus manifesta-se no cuidado sobre o mundo através das pessoas de bem, resilientes contra o mau, a destruição, a violência, etc; pessoas que, tocadas pelas graça especial ou pela graça comum, lutam, através do engajamento pessoal, familiar, comunitário e social, para que o mundo seja um lugar melhor, como Deus criou e sempre quer que seja.

A existência é, desde os primórdios da narrativa bíblica, uma parceria com Deus. E esta parceira pode ser direta ou indireta, consciente ou inconsciente. Ele não fará nada sozinho quando aquilo que precisa ser feito, pode e deve ser feito com e pela humanidade.

Nesta perspectiva, o mal triunfa quando o bem se cala; homens maus chegam ao poder por conta de homens bons que se abstém da liderança; explorações à gentes simples existem, porque alguns se beneficiam delas e os que podem intervir, escolhem se calar, ora por falta de coragem, ora por conveniência ou ignorância.

Assim, penso que, ao invés de responsabilizar a Deus a partir desta ingênua ideia de controle, muitos cristão, especialmente aqueles que são providos das consciências do Evangelho de Jesus, poderiam se envolver mais com as contingências da existência, considerando as dores, as necessidades e os sofrimentos alheios, a destruição da natureza, as corrupções políticas, demonstrando que, se há um “controle divino”, o mesmo se demonstra contra o mau a partir da militância do amor que se faz presente na fé em Cristo.

É isso.

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