Um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre a Prefeitura de Americana e o MP (Ministério Público) da cidade para o combate dos escorpiões não inclui controle químico contra o animal entre as metas de responsabilidade da Administração Municipal. A informação é do 1º promotor de Justiça de Americana, Clóvis Cardoso de Siqueira, responsável pela área de Saúde Pública.
Americana já registrou somente este ano 436 vítimas de picadas do animal peçonhento, número que supera todos os casos registrados ao longo de 2017 (409 vítimas).
Apesar do crescente clamor popular, principalmente nas redes sociais, para que haja aplicação de veneno nas redes de esgoto e galerias, o promotor diz que essa medida é ineficaz no combate ao aracnídeo.
“No meu entendimento, e com todas as informações que tive, inclusive juntamente à Sucen (Superintendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo), posso afirmar que o controle químico não tem eficácia contra escorpiões”, declarou Siqueira. “Isso se dá pela capacidade que os escorpiões têm de fechar os brônquios e evitar que o veneno entre em seu sistema respiratório. Ele fica três dias sem respirar, passou o veneno ele volta à atividade”, explicou o promotor.
O “Manual de Controle de Escorpiões”, publicado em 2009 pelo Ministério da Saúde, traz a mesma informação. “O hábito dos escorpiões de se abrigar em frestas de paredes, embaixo de caixas, papelões, pilhas de tijolos, telhas, madeiras, em fendas e rachaduras do solo, juntamente com sua capacidade de permanecer meses sem se movimentar, torna o tratamento químico ineficaz”, diz o guia.
Ontem, o assunto foi debatido mais uma vez durante a sessão da Câmara de Vereadores. De acordo com o vereador Thiago Brochi (PSDB), em 2018 já foram capturados 14.333 escorpiões na cidade, ultrapassando o recorde de 2014 (13.043).
ACORDO COM O MP
O Ministério Público propôs o TAC (que é um acordo judicial) com a Prefeitura após a abertura de um inquérito civil público diante da proliferação dos animais na cidade. O acordo possui várias metas a serem cumpridas pela Administração Municipal, mas nenhuma delas inclui a aplicação do veneno.
Em Nova Odessa, o controle químico é feito contra ratos e baratas, principal alimento dos escorpiões. A veterinária responsável pelo setor de Zoonoses, Paula Faciulli, ressaltou que a medida é adotada há mais de 15 anos. “A gente elimina as baratas, com o veneno elas morrem em questão de segundos. Isso ajuda a questão de oferta de alimentos para os escorpiões”, diz.
Apesar de considerar a medida eficaz por reduzir indiretamente a praga, ela defendeu a prevenção como melhor medida. “O que ajuda bastante é não deixar entulho em quintal, nem material de construção acumulado, ter cuidado com o lixo doméstico para não atrair baratas, fechar a soleira e deixar as caixas de gordura fechadas, usar aqueles ralos que fecham”, orienta.
O promotor de Justiça de Americana faz a mesma avaliação. “Não é responsabilidade apenas da prefeitura, mas em grande parte da população, que não mantém os terrenos limpos e descarta alimentos em locais inadequados, por exemplo”, diz.
Siqueira deve analisar em breve uma denúncia feita ao MP pela balconista Daniele Cristina Gandra de Castro, 30, moradora de Americana, que reuniu mais de 19 mil assinaturas, além de relatos e fotos da captura dos escorpiões em diversos pontos da cidade. “Várias vezes cheguei em casa pra almoçar e minha filha mais velha vinha me dizer que tinha achado escorpião. Vivo numa angústia sem fim”, afirmou ela, que decidiu pedir providências à Promotoria.