sexta-feira, 22 novembro 2024

Produção industrial cai 2,4% em março e zera ganhos na pandemia, aponta IBGE

Prejudicada pelo agravamento da pandemia, a produção industrial caiu 2,4% em março na comparação com fevereiro, apontam dados divulgados nesta quarta-feira (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com o resultado, o indicador retornou ao nível pré-pandemia, verificado em fevereiro de 2020. Ou seja, a produção das fábricas zerou os ganhos acumulados após o impacto inicial da crise sanitária.

A baixa de março foi a segunda consecutiva, em mais um sinal de perda de fôlego da atividade econômica na largada deste ano. Em fevereiro, a produção industrial havia caído 1% após nove meses de desempenho positivo.

Além do recrudescimento da Covid-19, a interrupção de programas de estímulo também freou a economia no primeiro trimestre. O auxílio emergencial, por exemplo, só foi retomado em abril

Já na comparação com março do ano passado, a produção industrial cresceu 10,5%. À época, o país vivia a fase inicial da crise sanitária, com os primeiros impactos do coronavírus na rotina de empresários e trabalhadores.

Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam queda de 2,8% para a produção industrial na comparação mensal e alta de 8,5% no recorte anual.​

André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, avalia que a retração de 2,4% tem “uma associação bem clara com o recrudescimento da pandemia”. Fatores como inflação e desemprego em alta completam o cenário de dificuldades que provoca freio na atividade das fábricas, diz o analista.

“O resultado tem uma relação direta com o início de 2021, de menor ritmo de produção. Tem uma associação bem clara com o recrudescimento da pandemia e todos os efeitos que isso traz para o processo produtivo”, afirmou.

“Com o agravamento da crise, restrições de mobilidade, fim do auxílio (emergencial) e contingente importante de (trabalhadores) desocupados e subutilizados, há um comportamento de redução da produção, intensificado em março”, acrescentou.

No acumulado do primeiro trimestre de 2021, a produção industrial teve alta de 4,4%. Em 12 meses, o desempenho continuou negativo, com queda de 3,1%.

O patamar recorde de produção foi registrado em maio de 2011. O nível do terceiro mês de 2021 está 16,5% abaixo do pico da série histórica.

“A queda em março era um desempenho previsível. Houve piora da pandemia, e medidas emergenciais do governo desapareceram. Só agora que algumas medidas estão sendo recompostas, mas em níveis inferiores. A piora nos casos de coronavírus bloqueia vendas do comércio, importantes para o escoamento dos produtos da indústria”, analisa o economista Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Em março, 15 dos 26 ramos industriais ficaram no vermelho. Segundo o IBGE, a principal influência negativa veio de veículos automotores, reboques e carrocerias, cuja produção amargou tombo de 8,4% frente a fevereiro.

Por outro lado, entre as 11 atividades em alta, os destaques foram indústrias extrativas (5,5%), outros equipamentos de transporte (35%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%).

“A indústria caiu em março menos do que o mercado esperava, mas mostrou fragilidade. A economia não está ganhando tração por conta própria”, aponta o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) afirmou, no último dia 27, que a “economia terá problemas enquanto toda a população não for vacinada”. Durante a crise sanitária, outra queixa recorrente de empresários é a escassez de insumos e a disparada de preços de matérias-primas, reflexos do desarranjo de cadeias produtivas e da alta do dólar.

Na visão de Perfeito, o quadro de demanda fragilizada pode ter arrefecer com a volta de programas como o auxílio emergencial. Contudo, o cenário de pandemia segue como fator de risco para o setor industrial, relata o economista.

“A retomada de programas de sustentação de demanda pode trazer alívio, mas a massa salarial continua baixa. A renda está fragilizada, e os empresários não conseguem repassar o aumento de custos. Tem vários desafios no horizonte”, pontua Perfeito.

Cagnin vai na mesma linha. O economista do Iedi enxerga quadro de dificuldades enquanto o número de casos de coronavírus não tiver redução consistente.

“Teremos um retorno ao crescimento mais forte com o ponto final da pandemia. Isso vem com a vacinação. Estamos pagando o preço por não termos adquirido o volume necessário de vacinas no ano passado”, argumenta Cagnin.

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