sábado, 27 abril 2024

Vereador é acusado de fala racista

O vereador Antonio dos Reis Zamarchi, o Toninho Mineiro (PV), foi acusado de racismo na sessão de terça-feira (23) da Câmara de Sumaré. Toninho usou o termo “nego” em uma fala na tribuna, revoltando colegas. Toninho se desculpou, negou ser racista, disse que tem amigos negros e culpou o “linguajar dos mineiros”, pelo uso do termo. As desculpas deixaram os vereadores ainda mais indignados.
A confusão começou durante uma moção de apelo de Toninho pedindo a revisão do reajuste do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) no município. O vereador do PV cobrou a assinatura dos colegas da moção e, na tribuna, disse: “coloquei na íntegra, para nego ler”. O uso do termo revoltou o presidente da Casa, Willian Souza (PT), que o cobrou em seguida.
“Quero pedir que o vereador se retrate com os negros e negras dessa cidade. A Revista Galileu traz que você é racista sem perceber. O vereador acaba de falar ‘para nego ver’. Isso é um ditado racista e preconceituoso. Este mesmo vereador que anos atrás criticou o Bolsa Família, que cometeu brincadeiras homofóbicas com motorista desta Casa, vereador que reúne o que há de mais escroto, pior e oportunista”, declarou Willian.
Pouco depois, Toninho pediu para falar e se desculpou. “Em primeiro lugar, quero parabenizar o presidente pela colocação. Se eu realmente falei aquela palavra (nego), não me atentei no momento. A gente usa para a rua direto, ‘nego faz isso, nego faz aquilo’, é difícil alguém aqui que nunca falou isso”, alegou o vereador do PV.
“Infelizmente, é o nosso linguajar, principalmente eu, que sou mineiro. Peço desculpa a toda a classe, que eu admiro muito. Jamais falaria na maldade, ia ofender minha própria esposa, que é morena. Para ser sincero, meus maiores amigos são negros”.
Toninho seguiu. “Sempre respeitei todos os seres humanos e sempre vou respeitar. Se usei essa palavra, me desculpa, é modo da gente falar, não tem maldade, principalmente os mineiros, que costumam falar meio errado. Sou humilde suficiente para pedir desculpa se alguém entendeu de outra forma”, disse.
Valdinei Pereira da Silva, o Ney do Gás (Cidadania), tomou as dores pelos mineiros. “Não vou entrar no mérito se o vereador (Toninho) foi preconceituoso, se falou ou não, mas dizer que é linguajar de mineiro? Eu também sou mineiro e não falo assim. Não inclua os mineiros como quem usa essa palavra (nego) não”, disse.
Willian falou outra vez. “A família da minha esposa toda é mineira e eu nunca ouvi esse ditado. Esse é o racismo institucional, sempre tem uma desculpa. O vereador acabou de falar na tribuna, que tem amigos negros, que não é racista. Esta desculpa é protocolar, combatida pelo movimento negro”, apontou.
“O vereador, formado em Direito, vai e reafirma o racismo dele. Ele classifica, dentro do seu próprio rol de amigos, diz que os negros são todos iguais. Ele pediu desculpa, mas o coração dele não deixa ele pedir. Isso é um grande absurdo”, completou o presidente da Casa. Willian analisa com o jurídico quais medidas irá tomar.
O vereador Ulisses Gomes (PT), também comentou a situação. “Não consigo entender como a gente ainda concorda com o racismo, aceita e tem gente racista ainda hoje. Estamos combatendo o racismo há quantos anos, desde a escravatura. Os negros ajudaram a construir este país e grande parte do mundo”.
“O racismo tem que ser banido. Não existe mais brincadeira, já foi o tempo das piadinhas, já passou. Os negros já sofreram demais. Piorou mais ainda, ficou pior do que se não tivesse falado nada”, afirmou.
Toninho não se pronunciou mais sobre o tema na sessão.
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